“Pesquisas eleitorais representam o passado e nunca o que acontecerá no futuro”, avalia analista político
Especialista explica qual a função das pesquisas eleitorais e se eleitor pode aproveitar os resultados na hora do voto
À medida que as Eleições Municipais de 2024 se aproximam, crescem os números de pesquisas eleitorais divulgadas pelos institutos e meios de comunicação. Em Curitiba, por exemplo, só nesta semana, três estudos de intenção de voto foram publicados (IRG Pesquisa, AtlasIntel e Quaest). Como os resultados divergiram, o Paraná Portal buscou, junto ao professor associado do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Emerson Urizzi Cervi, esclarecimentos sobre a função das pesquisas eleitorais e de qual maneira os eleitores podem aproveitar os resultados para embasar o voto.
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Para que servem as pesquisas eleitorais?
De acordo com Cervi, a “pesquisa eleitoral é mais um instrumento de informação do eleitor ao longo do processo eleitoral. Não é o único, não é o mais importante e não reflete necessariamente as intenções dos eleitores”. O objetivo de uma pesquisa eleitoral é representar a população de eleitores de uma cidade.
As pesquisas eleitorais não servem para antecipar o resultado, alerta o especialista. “É errado e equivocado um candidato dizer que está ganhando porque está à frente nas pesquisas”, emenda. Isso porque uma pesquisa eleitoral representa uma resposta ao que aconteceu no passado e, de forma alguma, o que pode acontecer no futuro.
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Cervi admite, no entanto, que ao longo do período eleitoral, quanto mais próximo do dia das eleições (que, em 2024, será em 06 de outubro), mais fácil a pesquisa tem de ser assertiva. “Ainda assim, é possível que tenham movimentos de última hora, que acaba gerando mudanças em relação à pesquisa da sexta-feira que antecede a data das eleições (popularmente chamada de ‘boca de urna’)”.
Quais são os métodos populares para fazer uma pesquisa eleitoral?
Entrevista pessoal
Aquela a qual o eleitor é entrevistado pessoalmente. Cervi explica que esse é um dos métodos que mais respeita a representatividade do eleitorado. Esses foram os métodos usados pelas IRG Pesquisa e Quaest.
Pesquisa telefônica
O eleitor recebe uma entrevista via pesquisa telefônica, fixo ou por celular. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 9,5% dos lares brasileiros têm telefone fixo. Para Cervi, a pesquisa eleitoral via telefone pode favorecer os números de candidatos que têm um eleitorado composto por classe média e classe alta. Uma vez que a população que se mantém com telefone fixo é mais velha e tem uma renda mais expressiva.
Cervi esclarece que, ainda que a pesquisa busque contrabalancear com pesquisas via celular, pode ter interferência na amostragem.
Pesquisa on-line com voluntários
Os usuários recebem um anúncio nas mídias sociais ou via e-mail para responderem à pesquisa eleitoral. O especialista conta que esse é o método usado pela AtlasIntel. Neste caso, o eleitor voluntariamente clica no anúncio e responde inicialmente um questionário sobre o próprio perfil, assim a amostra é montada após a primeira etapa.
Cervi alerta, no entanto, que embora seja muito comum nos Estados Unidos, esse método não tem bons resultados no Brasil — do ponto de vista de representatividade da amostra. Isso porque depende do engajamento da população em participar. Nos EUA, pelo voto ser optativo, só uma parte da população vai votar e será mais engajada. Assim, a amostra se torna mais próxima da realidade do eleitorado.
Por outro lado, a obrigação do voto no Brasil não faz da população mais engajada politicamente. E, portanto, só será voluntário quem necessariamente é mais engajado. Se um candidato tiver um eleitorado mais engajado, ele terá um resultado mais favorável. E, neste caso, a parcela de indecisos será mais rara, uma vez que está avaliando ativistas políticos, que, geralmente, já têm um candidato favorito.
O especialista aponta, ainda, que esse é o método que mais se distancia do resultado real das eleições. Não apenas em Curitiba, mas como também em outras capitais.
Margem de erro faz parte, mas as pesquisas devem buscar representatividade
Os institutos de pesquisa eleitoral devem ter o conhecimento sobre o perfil do eleitorado e buscar essa semelhança ao definir a amostra. Se pesquisas eleitorais feitas com números semelhantes de pessoas em períodos próximos tiverem resultados discrepantes, é um indicador que a amostra não estava ajustada conforme o perfil.
Quando o eleitor pode desconfiar das pesquisas eleitorais?
É bastante importante que o eleitor desconfie e, até mesmo, desconsidere o resultado de uma pesquisa eleitoral quando ela for trazida por um candidato, alerta Cervi. “Subiu, está em primeiro, virou… sempre tem um viés e não informa o eleitor”. Ele defende que esses resultados são distorcidos, de maneira deliberada, para que o eleitor não tenha a informação completa sobre o contexto da pesquisa.
Cabem aos meios de comunicação esclarecer ao eleitor o resultado da pesquisa e informar detalhes sobre a amostra, enfatiza.
Cenário político é precoce para fidelidade das pesquisas eleitorais
Emerson Cervi declara que ainda é muito cedo para as pesquisas eleitorais terem resultados próximos aos da realidade do resultado do primeiro turno. Neste momento, os eleitores ainda estão com nomes de atuais prefeitos, ex-prefeitos, deputados na memória. Porque, de acordo com o professor, são os que estão mais presentes no dia a dia do eleitor.
Com o início do horário político gratuito nas emissoras de televisão e nas rádios, nesta sexta-feira (30), os resultados podem ter alterações, destaca. Isso porque abre espaço para os candidatos apresentarem propostas, denunciem e sejam denunciados.
Se pouco mais de um mês para o primeiro turno ainda é cedo para o resultado das pesquisas, por que elas começam a ser divulgadas em maio?
O especialista conta que as pesquisas eleitorais realizadas no primeiro semestre do ano não têm direcionamento para o eleitor e sim, para os partidos aproveitarem os resultados. Isso porque é o momento em que os partidos estão buscando parcerias para montar as chapas e as coligações.
Com o resultado da pesquisa, pode embasar escolha de cabeça de chapa (quem será o candidato a prefeito). Se um candidato menos popular for escolhido erroneamente para disputar o cargo de prefeito, pode atrapalhar a candidatura do escolhido a vice, supostamente mais forte.
Em resumo: as pesquisas eleitorais feitas antes da pré-candidatura possibilitam medir a popularidade e a força dos possíveis candidatos.
Eleições 2024
As Eleições Municipais de 2024 serão no dia 6 de outubro. Para as cidades elegíveis ao segundo turno, a nova data para o pleito será em 27 de outubro. Veja quais cidades do Paraná podem ter segundo turno.
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