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Eleições 2024: os curitibanos realmente estão indecisos para o 1º turno? Especialista esclarece
(Foto: José Cruz/Agência Brasil)

Eleições 2024: os curitibanos realmente estão indecisos para o 1º turno? Especialista esclarece

Em pesquisas eleitorais espontâneas, nas quais o eleitor não recebe a lista de candidatos para escolha, 80% admitem não saber em quem votar

Brenda Iung - quinta-feira, 29 de agosto de 2024 - 17:52

Oito em cada dez eleitores de Curitiba estão indecisos sobre a escolha para prefeito no primeiro turno das Eleições Municipais de 2024. Pelo menos, é o que supostamente informam as últimas pesquisas eleitorais divulgadas na capital paranaense. Mas isso reflete a realidade? O Paraná Portal conversou com Rodrigo Alvarenga, professor de ética e política do Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos e Políticas Públicas da PUCPR, que esclarece o tema.

Em primeiro momento, é necessário voltar ao dado revelado pela pesquisa eleitoral RPC/Quaest, que aponta mais de 80% de indecisos entre os eleitores curitibanos. O cenário também é semelhante na pesquisa Radar/Banda B, que aponta 72% de indecisos. Nenhuma delas se equivoca em relação ao resultado, no entanto, elas correspondem apenas à amostra espontânea, na qual o entrevistador não apresenta ao eleitor a lista prévia de candidatos para serem escolhidos. Alvarenga explica que, na pesquisa direcionada — aquela a qual a lista é vista antes da pesquisa ser respondida — o número é mais baixo: 6% na RPC/Quaest e 10% na Radar/Banda B.

O cenário atual — 38 dias para o primeiro turno — também não é favorável para o eleitor poder opinar com mais embasamento sobre qual é o melhor candidato para liderar a Prefeitura de Curitiba. “Ainda é muito cedo para o eleitor decidir e para tirarmos conclusões sobre esse fenômeno, ainda mais considerando a diferença entre a pesquisa espontânea e a dirigida”, aponta o professor.

Motivações para indecisão na hora do voto

“Muitos eleitores ficam indecisos porque não têm informações suficientes sobre os candidatos ou sobre as suas propostas”, afirma Alvarenga. Isso pode acontecer por campanhas eleitorais pouco transparentes ou de uma cobertura midiática insuficiente, acrescenta. Ainda nesse tema, a falta de clareza nas propostas pode levar o eleitor à indecisão.

Essas motivações fazem parte da realidade de Carolina Martins Pontes (28), eleitora de Curitiba. Votante no bairro Cajuru, região leste da capital, ela explica que dos dez candidatos à Prefeitura de Curitiba, conhece apenas dois. E admite fazer parte dos eleitores que deixa a escolha para a última hora. Além de não ter a certeza sobre a escolha para prefeito, também não escolheu um candidato a vereador.

Questionada sobre as duas últimas eleições municipais (em 2016 e em 2020 — que resultaram na eleição e na reeleição de Rafael Greca), ela tinha um candidato favorito para o primeiro turno. Mas, ao chegar na urna, mudou o voto.

“A questão das coligações políticas e alianças que acabam não tendo uma posição política clara ou que são formadas apenas para fins estratégicos podem gerar confusão”, comunica, ainda, o especialista Rodrigo Alvarenga. Ele explica que, quando candidatos de diferentes origens políticas se unem sem uma visão comum, dificulta para o eleitor entender as intenções e os compromissos reais a serem defendidos pela chapa.

“A desconfiança em relação aos políticos e ao sistema eleitoral marcam a crise de representatividade política que vivemos, que levam os eleitores a não confiarem nas promessas feitas pelos candidatos ou acharem que todos os candidatos são iguais. A radicalização da polarização política e como os votos são disputados apelativamente por meio de notícias falsas (fake news) e discursos de ódio nas redes também pode contribuir para a indecisão dos eleitores”, complementa.

Eleições municipais têm menos engajamento da população

Diferentemente das eleições de níveis estadual e federal, para escolher governador e presidente, as eleições municipais “despertam menos interesse do público, o que revela um pouco da despolitização e afastamento da população da dimensão política, visto que é na política local que a vida das pessoas é mais diretamente impactada”, aponta Alvarenga. O especialista descreve que nas eleições presidenciais de 2022 (na qual Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito), por exemplo, número de indecisos foi menor.

Tendências de voto dos curitibanos

Em relação ao perfil dos candidatos, o professor explica que, de maneira geral, o eleitor curitibano tem tendências conservadoras e prefere apostar em candidatos com histórico e tradição familiar na política. Dos dez candidatos ao cargo de prefeito nas Eleições 2024, apenas Cristina Graeml (PMN) e Felipe Bombardelli (PCO) estão se candidatando pela primeira vez a um cargo público.

Quando pensado nos nomes que ocupam os quatro primeiros lugares nas pesquisas eleitorais divulgadas até o momento, três já ocuparam cargos no executivo. E todos já ocuparam ao menos um cargo político.

Esse cenário, chamado de empate técnico, é benéfico para a democracia, avalia Alvarenga: “do ponto de vista da democracia essa maior concorrência é um ponto positivo, visto que o cenário eleitoral curitibano, normalmente, é marcado por grupos hegemônicos no poder”.

Como um candidato pode ajudar a afastar a indecisão na hora do voto do eleitor?

Rodrigo Alvarenga indica ações para os candidatos à Prefeitura de Curitiba facilitarem a escolha dos eleitores:

  • apresentar propostas claras e detalhadas
  • explicar como planeja implementar as ideias e os benefícios esperados
  • evitar promessas vagas
  • fornecer detalhes específicos para os eleitores compreenderem intenções e capacidades
  • ouvir as preocupações e necessidades dos eleitores (para isso, o especialista sugere que os candidatos façam eventos de escuta, fóruns comunitários e pesquisas que ajudem a entender melhor os desejos e prioridades da população)

O que um eleitor precisa fazer para escolher o candidato ideal?

Para ajudar o eleitor a escolher um candidato de maneira mais segura, o professor de ética e política do Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos e Políticas Públicas da PUCPR, sugere:

  • entender a importância da política e buscar participar mais da vida pública para realmente ter consciência na hora do voto (ele avalia esse tópico como vital)
  • analisar as propostas e as plataformas dos candidatos, buscando documentos oficiais, debates e materiais de campanha para entender as propostas
  • comparar o histórico e as experiências anteriores dos candidatos
  • ficar atento para não cair na armadilha da manipulação por meio de propostas que ofereçam soluções muito simples para problemas complexos
  • verificar se os valores e a visão dos candidatos estão alinhados aos seus (“Uma boa decisão não é apenas sobre as propostas práticas, mas também sobre a compatibilidade ideológica e ética”, defende)
  • ter cuidado com o extremismo ideológico, que se apoia em conquistar o voto do eleitor pela emoção e não por argumentos lógicos e racionais

Para finalizar, Rodrigo pede que os eleitores curitibanos “avaliem e reflitam muito sobre quais candidatos e candidatas são capazes de contribuir de forma efetiva para a construção de uma Curitiba mais digna e humana para toda a população e não apenas para os mais privilegiados”.

Esse pedido vai ao encontro ao que a eleitora Carolina, mencionada anteriormente nesta matéria, espera de um candidato: “quero votar em alguém que verdadeiramente se importe com a cidade e o bom funcionamento dela. Prezo por candidatos que fazem campanhas mais sociais, que têm maior preocupação em dar o básico para população, como: casa, comida, emprego, segurança e saúde”.

Eleições 2024

As Eleições Municipais de 2024 serão no dia 6 de outubro. Para as cidades elegíveis ao segundo turno, a nova data para o pleito será em 27 de outubro. Veja quais cidades do Paraná podem ter segundo turno.

Acompanhe o Paraná Portal para ver o histórico político dos candidatos e o avanço das Eleições Municipais de 2024. Veja os candidatos ao cargo de prefeito ou prefeita de Curitiba.

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