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Contrários ao programa Parceiro da Escola são intimidados nos locais de votação, diz deputada
(Foto: colaboração/Ana Júlia – PT)

Contrários ao programa Parceiro da Escola são intimidados nos locais de votação, diz deputada

Secretaria de Estado da Educação admitiu pedir reforço à Polícia Militar nos espaços onde a consulta pública acontece

Brenda Iung - sexta-feira, 6 de dezembro de 2024 - 18:58

A consulta pública para definir o destino das escolas paranaenses começou com ameaças de prisão, intimidações, truculência policial e tentativas de direcionamento de voto, denuncia a deputada estadual Ana Júlia (PT). Entre hoje (6) e a próxima segunda-feira (9), comunidades de 177 colégios estaduais decidirão se vão ou não aderir ao programa Parceiro da Escola — que prevê a privatização da administração dos colégios estaduais.

De acordo com o Governo do Paraná, até o fim da tarde desta sexta-feira (6), foram computados 13,5 mil votos. 100 mil pessoas ligadas à comunidade escolar, de 98 municípios, podem opinar sobre a implementação do programa Parceiro da Escola.

No Colégio Estadual Ivo Leão, em Curitiba, duas denúncias foram registradas. Em uma delas a diretora tentou desmotivar estudantes a votar. Um grupo de alunos estava se direcionando ao local de votação, quando a diretora interrompeu o trajeto de duas das alunas: “ela parou perguntando se a gente ia votar. A gente falou que sim e ela falou que não valia à pena votar, porque não era coisa importante. Mas, que se fosse para votar, era para votar sim”, relatou uma aluna, que não quis se identificar, à deputada.

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(Foto: colaboração/Ana Júlia – PT)

Outro caso envolveu a advogada Marilda Ribeiro e a Polícia Militar. A advogada afirma que acompanha a votação desde o início e que, neste tempo, conversou com a direção da escola e também com os integrantes da mesa que recebem os votos. Em um dado momento, uma viatura da Polícia Militar, transportando um sargento e um soldado, chega ao local. Os agentes afirmaram que foram até lá após um pedido da Secretaria de Estado de Educação (SEED).

De acordo com Marilda, os policiais conversaram com o responsável de um dos estudantes, que estava no local para votar. Ele apresentou aos policiais uma mensagem no celular, com um informativo da SEED sobre os dias e os horários da consulta pública. “Eu perguntei a esse responsável se a mensagem da Secretaria de Educação era apenas informando sobre o processo ou se estaria pedindo votos”, afirmou a advogada. O responsável mostrou a ela a mensagem e confirmou que o informativo enviado pela SEED continha informações sobre o programa.

“Imediatamente, o policial se sentiu ofendido, afirmando que eu intervi numa conversa privada entre eles e dizendo que eu estava provocando conflito no espaço de votação”, relatou. A advogada discordou, reafirmando que o interesse da pergunta era saber se a SEED estava usando a máquina pública para pedir votos favoráveis ao programa. “Isso gerou um descontentamento na Polícia Militar”, que registrou um boletim de ocorrência contra a advogada, relata a própria.

Nesse colégio em questão, os alunos com mais de 16 anos foram autorizados a votar na consulta pública, após uma liminar concedida na quinta-feira (5), pela 1ª Vara da Fazenda Pública de Curitiba. A decisão foi da juíza Carolina Delduque Sennes Basso, a pedido do grêmio estudantil.

Uma manifestante contrária à aprovação do projeto contou à Ana Júlia ter sido ameaçada de prisão por um dos policiais militares que faziam a operação. À deputada, ela relatou, via WhatsApp: “recebi uma advertência verbal do policial. Se eu me manifestar, receberei voz de prisão“. A situação ocorreu no Colégio Estadual Dom Orione, também na capital paranaense.

Contrários ao programa Parceiro da Escola são intimidados nos locais de votação, diz deputada
Registro da denúncia feita por uma manifestante contrária ao programa (Foto: colaboração/Ana Júlia – PT)

No mesmo local, a assessoria parlamentar da deputada Ana Júlia (PT) afirma ter recebido, por parte da comunidade escolar, pedido de apoio jurídico pelas ameaças e confrontos com pessoas favoráveis ao programa. “A diretora estava cedendo estrutura física da escola, como cadeiras, para as pessoas que estavam do lado de fora fazendo campanha para o projeto do governo. Uma postura totalmente parcial e vedada, uma vez que se trata de patrimônio pública”, afirma a deputada.

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Polícia Militar aborda manifestantes no colégio Dom Orione, em Curitiba (Foto: colaboração/Ana Júlia – PT)

Em nota, a SEED admitiu a solicitação de apoio da Polícia Militar para patrulhamento dos locais de votação. E afirma que fez o pedido após a denúncia, por parte de pais de alunos, de que professores e funcionários ligados a sindicatos estavam fazendo campanha nas escolas.

Outro ponto que causou discordância entre os manifestantes contrários ao programa Parceiro da Escola e o Governo do Paraná foi um documento enviado pela SEED sobre as diretrizes para garantir a segurança e o direito de votação durante as consultas públicas. No artigo 5 da Orientação N.º 3/2024 – DG/SEED, a Secretaria de Educação afirma: “não é permitido fixar ou distribuir materiais de propaganda, como cartazes ou panfletos, dentro da escola ou em sua área externa”.

No entanto, conforme defende a deputada Ana Júlia (PT), a SEED não tem autoridade para definir regras sobre manifestações no espaço externo das escolas. “Essa orientação configura tentativa de censura, e motivou uma atuação policial opressiva. Em alguns colégios, a PM exigiu a retirada de faixas e barracas. São ações ilegais e inconstitucionais, uma vez que a Constituição garante a liberdade de manifestação de pensamento, de expressão, de locomoção e de reunião em espaços públicos“, afirma a parlamentar.

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Comunidade escolar do Colégio Ivo Leão se manifesta contra o programa Parceiro da Escola (Foto: colaboração/Ana Júlia – PT)

Em defesa do direito à manifestação, a deputada afirma que continua acompanhando as votações e que oferecerá auxílio aos manifestantes, caso seja necessário. “Nossa assessoria jurídica e parlamentar está preparada para dar o suporte para as diferentes ocorrências, sempre em busca da lisura e transparência no processo das consultas”, garante.

Na tarde de ontem (5), a APP-Sindicato, que representa os professores e os funcionários das escolas públicas do Paraná, se declarou contra a aprovação do Programa Parceiro da escola.

“Nós temos um projeto envolto em dúvidas e questionamentos. Há uma medida cautelar do Tribunal de Contas fazendo uma série de questionamentos à Secretaria de Educação, sem respostas. As perguntas das comunidades escolares continuam sem respostas. O Tribunal de Justiça suspendeu partes do decreto. O Ministério Público também questiona o programa. Tantos questionamentos, tantas dúvidas e a Secretaria decide manter a consulta. Se está privatizando, com tantas dúvidas, com tanta falta de informação, é sinal de que a coisa não é boa”, declarou Walkiria Mazeto, presidente da entidade.

Entenda o programa Parceiro da Escola, do Governo do Paraná

O Governo do Paraná defende que o Programa Parceiro da Escola busca otimizar a gestão administrativa e de infraestrutura das escolas, com ações conjuntas com instituições especializadas em gestão educacional. Em resumo: o Governo Estadual, por meio da SEED, prevê a privatização do gerenciamento dos colégios estaduais.

O Governo do Paraná afirma que, com o programa, os diretores e os gestores das escolas poderão se concentrar na qualidade da gestão. E inovar no desenvolvimento de metodologias pedagógicas, no treinamento de professores e no acompanhamento do progresso dos alunos.

Para endossar o discurso favorável ao projeto, o Governo Estadual afirma que, desde 2023, o programa Parceiro da Escola é testado nos colégios estaduais Aníbal Khury, em Curitiba, e Anita Canet, em São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba. As entidades parceiras são a Tom Educação e a Apogeu. Segundo o Governo, nas duas entidades os índices de matrículas, frequência e desempenho escolar apresentaram melhorias significativas entre 2023 e 2024.

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Quais são os argumentos dos manifestantes contrários ao programa?

“As escolas precisam, sim, de mais recursos, mas a maneira de fazer isso é muito simples: é só repassar os recursos diretamente às instituições, por meio do Fundo Rotativo. Não precisa ter um intermediário, como quer o Parceiro da Escola, que vai ganhar muito mais do que hoje recebem os colégios, e ainda quase sem nenhuma contrapartida”, defende a deputada Ana Júlia (PT), que votou contra o projeto, enquanto tramitava na Assembleia Legislativa do Paraná.

A deputada explica que, enquanto os colégios públicos estaduais recebem um incentivo de R$ 10 por alunos, as empresas que administram os testes do programa receberam R$ 800 por aluno. “stamos falando de quase R$ 2 bilhões que serão repassados à iniciativa privada sem transparência e especificações necessárias”, detalha.

A deputada acredita que “a privatização sucateia a educação pública, pois interfere na autonomia pedagógica das escolas”. E que, com o programa, as empresas poderão contratar professores pela modalidade CLT, dispensando a exigência de concurso para lecionar nos colégios estaduais. Se isso se materializar, os professores deixarão de ter segurança para atuação em sala de aula, sob a chance de serem demitidos, inclusive por questões políticas, a qualquer momento. “Afinal, o que as empresas querem não é qualidade de ensino, mas apenas lucro”, conclui.

Por esse motivo, desde a aprovação da privatização da administração dos colégios estaduais de Curitiba, a deputada afirma ter atuado politicamente e juridicamente, denunciando ilegalidades do programa. Entre as ações estão: o envio de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) no Supremo Tribunal Federal (STF) e o pedido de suspensão do programa, ao Tribunal de Contas Estadual (TCE). Essas ações foram tomadas porque a deputada, assim como outros membros da oposição na Alep, defendem que o projeto é inconstitucional, uma vez que a gestão da educação pública compete ao estado.

“Seguiremos denunciando as ilegalidades e atentos ao processo de consulta, tomando as medidas judiciais cabíveis”, afirma.

Como denunciar excessos durante a votação da consulta pública para execução do programa Parceiro da Escola?

Os manifestantes que se sentirem coagidos durante a votação da consulta pública para viabilizar o programa Parceiro da Escola podem denunciar os excessos à equipe da deputada. As denúncias devem ser enviadas via WhatsApp, pelo número: (41) 99285-2969.

Veja na íntegra a nota da Secretaria de Estado da Educação sobre as denúncias das ações da Polícia Militar nos locais de votação do programa Parceiro da Escola

A Secretaria de Estado da Educação trabalha desde o começo da manhã para que o processo de votação do Parceiro da Escola seja democrático, transparente e respeite a resolução que instituiu as regras gerais do pleito. A pasta recebeu relatos de pais dizendo que professores e funcionários ligados a sindicatos estavam fazendo campanha nas escolas e solicitou que todos os atos, favoráveis ou contrários, fossem realizados fora do perímetro das escolas, garantindo a lisura da escolha. A manifestação nas redes sociais e fora dos ambientes de votação é livre e saudável. O Núcleo Regional da Educação de Curitiba solicitou apoio da Polícia Militar apenas para patrulhamento dos locais de votação.

A equipe do Paraná Portal entrou em contato com a assessoria de comunicação da Polícia Militar do Paraná para questionar o suposto uso do efetivo para coação de manifestantes e vai atualizar o espaço assim que receber o retorno.

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