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Investidores britânicos de olho no mercado brasileiro

Investidores britânicos de olho no mercado brasileiro

Quase 40% do capital investido em fusões e aquisições no país em 2023 é estrangeiro, aponta estudo; evento em Londres aborda riscos e oportunidades de M&A no Brasil

Lorena Nogaroli - quinta-feira, 24 de outubro de 2024 - 16:37

Londres, 24 de outubro de 2024 — Em parceria com a Redirection International e o escritório Mattos Filho, a Brazilian Chamber of Commerce in Great Britain realizou, na última quarta-feira (23), um evento em Londres para discutir o potencial do Brasil como destino de expansão para empresas internacionais por meio de fusões e aquisições (M&A).

De acordo com Adam Patterson, sócio da Redirection, empresa de consultoria em M&A, o Brasil ocupa hoje o 5.o lugar entre os principais destinos de investimento estrangeiro no mundo, com US$ 28,5 bilhões no primeiro semestre de 2024 — um crescimento de 30% em relação ao semestre anterior. No painel “’Mercado brasileiro de fusões e aquisições: tendências, setores e riscos”, ele apontou uma expectativa positiva para os próximos anos.

Um estudo da Redirection revelou que 38,9% do capital investido em M&A no Brasil em 2023 foi de origem estrangeira. Entre as maiores negociações de 2023, Patterson mencionou o investimento da Manara Minerals em ações da Vale, a aquisição da Aēsop, da Natura, pela  L’Oréal e a compra da Amil pelo empresário José Seripieri Filho.

Em 2024, diversas transações de M&A foram realizadas entre o Brasil e o Reino Unido. Entre os investidores britânicos, Patterson destacou a recente aquisição da BP, que desembolsou cerca de US$ 1,4 bilhão pela metade da BP Bunge Bioenergia (agora BP Bioenergy) que pertencia à gigante do agro Bunge, assumindo 100% do controle da operação. A aquisição consolida a BP como uma das maiores produtoras de etanol em escala industrial no Brasil, empregando 9 mil trabalhadores e com capacidade para produzir aproximadamente 50 mil barris de etanol por dia.

Segundo o especialista, o setor de biocombustíveis e bioenergia é um dos mais atrativos no Brasil para investidores internacionais. De acordo com estudos da Agência Internacional de Energia, estima-se que a demanda global nesse segmento aumente mais de 20% até 2026, acompanhando a tendência de descarbonização do transporte e as práticas ESG. “O Brasil tem uma das produções de bioetanol de menor custo e menor intensidade de carbono do mundo”, justifica.

Otimismo no crescimento e recuperação econômica

No painel “Perspectivas econômicas brasileiras e as perspectivas de crescimento”, o economista Marcos Casarin, da Oxford Economics, afirmou que a recuperação do Brasil pós-pandemia é superior à da maioria dos países, quase se equiparando à dos Estados Unidos. Segundo ele, o crescimento foi impulsionado pela demanda doméstica, apoiada por uma política fiscal expansionista e um mercado de trabalho aquecido. “O ‘ingrediente secreto’ para o desempenho acima da média no Brasil é o mercado de trabalho, com forte geração de empregos e aumento salarial”, salientou.

Casarin sugeriu que os segmentos com melhores desempenho entre 2025 e 2027 devem ser mineração, agropecuária e construção civil. Por outro lado, varejo e  atacado, segundo ele, terão um crescimento inferior ao do PIB nos próximos três anos.

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Patterson aposta nos mesmos setores, afirmando que o Brasil é uma potência energética em expansão, além de líder no agronegócio, mineração e recursos naturais. O especialista da Redirect também evidenciou que o setor de tecnologia tem sido o líder em volume de M&A no país, apesar de uma queda no último ano, passando de uma média de 602 negociações nos últimos quatro anos para 532 em 2023. Ele ainda ressaltou o crescimento em quatro áreas específicas: saúde (de 75 para 77), energia (de 69 para 81), alimentação (de 61 para 92) e o setor financeiro (de 89 para 101).

Câmbio favorável

Casarin enfatizou no evento que o real perdeu mais valor do que qualquer outra moeda latino-americana desde 2019 (-30%), o que limita o potencial de novas desvalorizações a partir de agora. Segundo ele, a moeda brasileira deve permanecer estável em relação ao dólar e pode apresentar uma modesta valorização frente à libra esterlina em 2025.

Já o sócio do escritório Mattos Filho, Stephen O´Sullivan, acredita que a libra esterlina atingiu seu valor máximo em relação ao real e que essa alta é artificial, devendo começar a cair já no início de 2025. “Portanto, o momento para o Reino Unido investir no Brasil é agora, para aproveitar a oportunidade cambial”, afirmou.

Aumento da classe média e da confiança empresarial

O Brasil é um mercado consumidor gigante, com mais de 200 milhões de pessoas e a 3.a maior população de classe média (que ganha entre US$ 20 mil e US$ 70 mil por ano) entre os mercados emergentes, ficando atrás apenas da China e da Índia. Atualmente, o país conta com quase 30 milhões de famílias nessa faixa de renda, e a previsão é que esse número se aproxime dos 35 milhões até 2029, destacando ainda mais o Brasil como potencial de consumo.

O aumento do Índice de Confiança Empresarial (ICEI) no Brasil também está no radar dos investidores estrangeiros. Em setembro de 2024, o índice avançou 1,6 ponto, alcançando 53,3%, marcando o segundo aumento mensal consecutivo, superando o crescimento observado no ano anterior. Segundo Patterson, o otimismo é impulsionado pela melhora nas previsões do PIB e pela expectativa de redução das taxas de juros.

Além disso, o especialista da Redirection pontuou outros fatores que aumentam a atratividade do mercado brasileiro: relativo isolamento geopolítico, autossuficiência em commodities, dívida em dólar relativamente pequena (fechou 2023 em 16,6% do PIB), grandes reservas cambiais (cerca de US$ 335 bilhões em agosto de 2024) e a elevação do rating soberano (em outubro, a Moody’s aumentou a classificação do Brasil para Ba1, a um passo do grau de investimento).

Aspectos jurídicos

No painel “Mercado brasileiro de M&A: o processo legal e recomendações”, o sócio do escritório Mattos Filho, Stephen O´Sullivan, apresentou os principais aspectos jurídicos para investimentos no Brasil. Ele também abordou a divisão dos três poderes, a soberania do STF, as diferenças entre sociedades limitadas e anônimas, os incentivos governamentais e os diferentes métodos de aquisição de empresas brasileiras.

Riscos e seguros

A diretora de M&A e Riscos Transacionais da Factor Risk Management, Camila Carvalho, encerrou o evento com o painel “Produtos de Seguros de M&A para o Brasil”. Segundo ela, o cenário econômico e político brasileiro tem levado a um aumento no número de clientes britânicos em busca de seguros para mitigar riscos potenciais. “A experiência internacional dos consultores brasileiros em fusões e aquisições oferece aos subscritores o nível necessário de due diligence”, destacou.

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