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Mazza, nosso mestre do jornalismo em qualquer plano. Sempre vivo! Até breve…
Foto: João Daniel

Mazza, nosso mestre do jornalismo em qualquer plano. Sempre vivo! Até breve…

Alguns depoimentos de amigos do nosso eterno mestre, jornalista Luiz Geraldo Mazza.

Pedro Ribeiro - quarta-feira, 11 de setembro de 2024 - 22:51

Intuitivo, inteligente e visionário. Assim vejo Luiz Geraldo Mazza, um dos mais destacados jornalistas do Brasil, transplantado de algum jardim fértil para a Curitiba que o adotou. Com olhar crítico e pena afiada contra governantes errantes, o velho Mazza nunca escolhia supostos donos do poder para seus comentários, que ganhavam vida nas páginas da antiga Gazeta do Povo, do Correio de Notícias, do Diário do Paraná e da Folha de Londrina, onde encerrou suas atividades nesta quarta-feira, 11 de setembro de 2024.

Com a mesma maestria, Mazza brilhava na TV e no rádio. Dizem que Mazza sabia de tudo e discorria com eloquência sobre a criação de minhocas californianas e turbinas que movem o desenvolvimento do país. Nunca duvidei, pois ele era capaz. De memória e lucidez invejáveis, Mazza era também ousado, um eterno garoto que, não faz muito tempo, ensaiava passos de bailarina na “Boca Maldita”, indiferente aos olhares de transeuntes, políticos decadentes e empresários aposentados. Não tinha rabo preso, não ocupava cargos públicos, e vivia dignamente de sua profissão. Ninguém ousava questionar o que Mazza fazia com as informações e suas privilegiadas fontes, fosse nos jornais ou na rádio. Suas análises críticas desconcertavam cientistas políticos e professores de Direito e Jornalismo.

Mazza sempre foi autêntico e único. Como jornalista, sinto-me privilegiado e honrado por poder escrever sobre ele, com quem tive o prazer de trabalhar lado a lado na Gazeta do Povo e na Folha de Londrina. Compartilhamos muitos momentos em bares e, até, disputamos a artilharia em torneios da Gazeta do Povo e Canal 12 (hoje Grupo RPC). Quando precisei de informações, Mazza sempre me atendeu com a atenção de um mestre. A ideia de lançar um livro sobre ele surgiu durante uma reunião com colegas jornalistas, como Dante Mendonça, Jaime Lechinski, Nilson Monteiro, Eduardo Sganzerla, Miriam Karam, Geraldo Bolda, Mai Nascimento, Carlos Mazza, Adélia Lopes, entre outros. Organizamos uma homenagem em comemoração aos seus 80 anos na Sociedade Garibaldi, que culminou em um elegante baile. A iniciativa da jornalista Mirian Karan resultou na belíssima obra que celebra um pouco da vida do nosso querido Luiz Geraldo Mazza, que acaba de nos deixar. As homenagens continuarão.

O choro e a emoção da Elisa

“Quando vi o Mazza subindo, com dificuldades e apoiado em uma bengala, as escadarias do Bar e Restaurante Nina, desabei em lágrimas. Vim de longe, das Minas Gerais, para uma confraternização com amigos jornalistas da Folha de Londrina e tive a honra de ver, abraçar, conversar e ouvir esse grande mestre”, relembra a jornalista Elisa Carneiro, uma das organizadoras do encontro em 17 de dezembro de 2022, que reuniu jornalistas da Folha de Londrina, passado e presente. A intenção era reunir de 10 a 15 colegas, mas o evento se transformou em uma grande festa com mais de 50 pessoas. Foi nesse dia que, pela iniciativa de Elisa, Simone Matos, Isabela França, Mirian Karan, Fifi, Lorena e outras colegas, surgiu um grupo no WhatsApp com 80 jornalistas que discutem o dia a dia da política, economia, biodiversidade e direitos iguais. Luiz Geraldo Mazza é, e sempre será, a nossa eterna fonte de conhecimento e inspiração.

Foto: Michel Willian

Falar das flores e dos perfumes

Isabela França – “Perdemos o Mazza! Perdemos não. Ganhamos. Ganhamos porque hoje, ao nos despedirmos de Luiz Geraldo Mazza, dois fatos são unânimes: nosso mestre viveu de forma plena, feliz, ativa e combativa por 93 anos e, para nós jornalistas e colegas de labuta, foi um imenso privilégio o convívio diário com seu talento, humildade e generosidade. Lulu, era assim que os amigos das antigas o chamavam, era gigante na voz e no conteúdo. Modelo e referência de muitas gerações de jornalistas, seguiu ativo até hoje. Mais de sete décadas de jornalismo sério. Tinha uma memória prodigiosa e um humor refinado. Até os 92 anos trabalhou diariamente analisando a vida paranaense e brasileira com sensatez e inteligência. Nunca se curvou a nada nem ninguém. Devemos muito ao Mazza. Sem ele o jornalismo fica mais pobre. Sua profundidade e olhar crítico colaboravam muito para desbastar a mediocridade que impera por aí. Eu tive a graça de trabalhar com ele por cinco anos na Folha de Londrina e trago alguns ensinamentos e poeminhas feitos pra mim e para os colegas de redação. Como ele, eu gostava de histórias e as que o tocavam acabavam impressas no meio da coluna do dia seguinte. Adorou quando contei que minha avó anunciava para os netos: corram que teve uma chuvarada de pinhão! Noutra ocasião eu, colunista social querendo ser combativa e dar opinião, tive de ficar presa na redação protegida pelo Deonilson Roldo porque um maluco não gostou de uma crítica que publiquei. No dia seguinte, batata! O Mazza delicadamente me ensinou que a coluna social era espaço para “falar das flores e dos perfumes”.  Essa delicadeza refletia sua humildade de caráter e foi um grande ensinamento profissional que ficou gravado para mim e para muitos dos colegas. Um dia, quando soube que eu era bisneta do poeta Serafim França, um dos articuladores da Academia Paranaense de Letras, me disse que a geração dele devia desculpas ao Serafim. E explicou: “nós, muito jovens, criticamos demais a geração deles, aquele parnasianismo rebuscado e não lhes demos a devida reverência”. Do Mazza levo essas e todas as lições de gentileza, simplicidade e amor. Obrigada por tanto!” (Isabela França, jornalista).

Encontro que emociona para sempre

Catarina Scortecci: “Nosso maior nome no jornalismo paranaense, Luiz Geraldo Mazza partiu hoje, aos 93 anos. Generoso demais, ele marcou a trajetória de profissionais de diferentes gerações, e eu me incluo aí. Mazza estava lá na primeira redação de jornal em que trabalhei, em janeiro de 2006, e seguimos companheiros na cobertura política por quase uma década. Taí um encontro que vai me emocionar pra sempre”. (Catarina Scortecci, jornalista).

Foto: Reprodução

Adeus, querido Mazza

Maria Celeste Correa: “O grande jornalista nos deixou. Maior referência do jornalismo paranaense, tinha uma verve ferina sempre que necessário e bem-humorada sempre que a ocasião permitia. Sua incomparável capacidade de análise crítica (que não deixava pedra sobre pedra), seu texto exato, sua coragem e sua integridade o alçaram ao patamar dos gigantes. Foi um grande privilégio conhecê-lo e aprender com ele. Foi uma honra ouvir dele que o nosso trabalho, meu e de Zig Koch, na área ambiental, “emociona a gente.” Foi um presente da vida cantar pra ele em sua última grande festa de aniversário. Muito obrigada por tudo, querido Luiz Geraldo Mazza”. (Maria Celeste, jornalista).

Universal sem sair de Curitiba

Jaime Lechinski: “Mais de 70 anos de jornalismo, na lida até o fim. Poderia ter sido  correspondente internacional, editorialista  ou colunista de grandes veículos  do país ou do exterior, mas preferiu nunca sair de Curitiba. E nem precisava:  daqui  mesmo seus olhos atentos  alcançavam os cantos mais escondidos da realidade , da sua rua ou  do mundo, enquanto  sua sensibilidade decifrava com profundidade, ainda que com leveza, a grande aventura humana. Vai em paz, querido amigo. Como quase todos os jornalistas de Curitiba, muito aprendi com você”. (Jaime Lechinski, jornalista).

Histórias que ficam na memória

Emerson Urizzi Cervi: “Além de tudo que vai se falar sobre o Luiz Geraldo Mazza, ele tinha uma característica: adorava conversar com universitários. Era convidado para palestras em cursos de comunicação a direito. Ia a qualquer instituição. Uma vez o convidei para participar de um evento sobre o golpe militar, na Universidade Estadual de Ponta Grossa, onde eu trabalhava, na época. Ele aceitou prontamente. Foi por volta de 2010, isso. Ou seja, Mazza já passava dos 70 anos. Naquele dia, trabalhou na CBN de manhã e eu passei à tarde na casa dele para irmos até Ponta Grossa (morávamos no mesmo bairro, quase na mesma rua). Não me lembro de ter conversado tanto durante uma viagem. Ele contando histórias, animado. Chegou à UEPG, por volta das 16h começou a falar. Só parou perto das 18h, contando “causos” do jornalismo de Curitiba durante a ditadura militar. Quase subiu na mesa quando foi falar da vez em que um artigo de um reitor da PUC foi censurado e a discussão sobre “lavar as mãos”. Na volta, pensei, o Mazza está cansado. Que nada, mais duas horas de conversa ininterrupta. Na ida era sobre a ditadura. Entre outras, contou que o partidão tinha uma proposta de desapropriar as margens da BR-376 para reforma agrária. Daí, uma vez líderes do partidão marcaram uma reunião política em Ponta Grossa. Chegaram na rodoviária e tinha um carro esperando eles. Subiram e quando viram estavam na sede da fazendo de um dos membros locais da sociedade rural. O fazendeiro tinha preparado um churrasco, com bebida e piscina liberados. Os militantes ficaram lá até o horário do ônibus de volta. Resultado: não houve reunião. Eu já tinha ouvido essa história algumas vezes e até hoje não sei se é verdade ou mito. Na volta, a conversa era sobre pescaria, coisa que ele fazia com frequência quase semanal àquela época. Rio Tibagi ele conhecia até as pedras. Grande Mazza. Grande história” (Emerson Urizzi Cervi, jornalista e professor).

Tchau, guri!

Claudia Gabardo: “Quantas lembranças boas e irreverentes do Mazza, que sempre me pareceu ter a mesma idade dos jornalistas da minha geração… Essa impressão era reforçada por suas atitudes joviais, como na tarde em que pulou para o centro da Redação do Correio de Notícias e, com o fotógrafo Gogô, na ponta dos pés, simulou passos de balé clássico. Risada geral. Sempre ouvido como parte da apuração para matérias e entrevistas – eram tempos pré-internet – ele também me dava dicas para enfrentar a rinite que também o atormentava. E sempre perguntava pelo meu pai, o contemporâneo que ele não conheceu mas sabia ser apenas alguns dias mais velho que ele. Nunca esquecerei o dia em que Mazza entrou na Redação e, irado, constatou que alguém do serviço de limpeza havia arrumado sua mesa – uma profusão de informações distribuídas entre livros, jornais antigos dobrados e relatórios de todo tipo que só ele conseguia localizar. Pois a mesa ficou incrivelmente organizada.  Mas o lado bom da ousadia daquela pessoa desconhecida, reconheceu, foi o resgate um pé de sapato da mulher dele, Luci, que adornava seu local de trabalho, junto à máquina de escrever. Nem Deus sabia por quanto tempo o pé de calçado, que havia buscado no sapateiro vizinho, ficou perdido embaixo do papelório sobre a mesa ou dentro de alguma gaveta entulhada de papéis.  Foi, maus uma vez,  muito divertido. Mazza se vai poucos meses após outro inesquecível colega de Correio de Notícias, o querido e doce Chuniti Kawamura”. (Cláudia Gabardo, jornalista).

Mazza, o artilheiro 

Hernani Vieira: “Decano dos jornalistas paranaense, exemplo de profissionalismo e ética, Luiz Geraldo Mazza faleceu na madrugada desta quarta-feira (11), no Hospital das Nações. Tinha 93 anos bem vividos, com trânsito nos principais veículos de comunicação do Paraná e o respeito no cenário político de diferentes pensamentos. Além de craque no jornalismo e no direito, pois foi procurado do Estado, o Mazzão também era fera no futebol. Peguei a fase mais veterana dele, mas continuava craque, artilheiro nato. Fomos colegas de redação da Gazeta do Povo por uma boa jornada e de boa lembrança o 3° torneio interno da GP, à época com uma dúzia de times recheados de bons boleiros. Era ano de 1979 e fomos campeões. Eu goleiro e o Mazza o artilheiro com 20 gols, ao lado do Pedro  Ribeiro, também do time da Redação, onde ainda apareciam o Marcos Batista e Gilson cordeiro, dentre outros. Um passeio no tempo para homenagear o ilustre amigo e exemplo de profissional. Nas fotos, o Mazza comemorando o último aniversário, no de 92, quando ganhou mais uma charge especial do Ademir Paixão, com o time da Redação (entre Hernani e Pedro Ribeiro e tendo na foto o diretor da GP, Dr. Francisco Cunha Pereira) e estampando a capa do “velho” jornal que marcou o campeonato de 1979. (Hernani Vieira é jornalista).

Foto: Reprodução

Há vários Mazzas, todos bons e úteis

Luiz Augusto Juk: “A notícia que recebi hoje (11/09)  não estava em pauta  (*) :  o falecimento do jornalista Luiz Geraldo Mazza. Ícone do imprensa  paranaense, respeitado pelos seus inteligentes comentários, postura firme quando era  preciso. Faltaria espaço aqui para  dizer quem foi Luiz Geraldo  Mazza, uma referências histórica do jornalismo  do Paraná. Como disse o saudoso jornalista Carlos Alberto Pessoa, o “Nêgo Pessoa” num de seus textos; “Há vários Mazzas, o da rádio, o do jornal, o da TV, o da cátedra, o da academia que não frequenta, todos bons, todos úteis, todos admiráveis.” Querido Luiz Geraldo Mazza, meus profundos sentimentos por sua partida. Com certeza estará  com os grandes nomes do jornalismo que já nos deixaram. E você , aqui, fica para a história do jornalismo neste plano espiritual. Até lá”. (Luiz Augusto Juk, jornalista).

Mazza, até qualquer dia 

Valdir Cruz: “Há 93 anos, em 10 de fevereiro de 1931, na Rua Visconde de Nacar, em Paranaguá, nascia Luiz Geraldo Mazza. É o segundo mais velho dos nove filhos de Arnaldo Mazza Júnior e Nair Veiga Mazza. Cedo, aos 9 anos, veio estudar em Curitiba. Mazza ingressou, aos 19 anos, em 1950, na Faculdade de Direito do Paraná, hoje UFPR. Nunca atuou como advogado. Apaixonou-se pelo jornalismo desde cedo. “Tentei o Direito, como procurador de Estado, mas acabei no jornalismo”. Como estudante, Mazza conciliou Direito e Jornalismo. Em 1948 era colaborador do Diário do Comércio de Paranaguá, escrevendo sobre as belezas da cidade. Começou, profissionalmente, no Jornal O Estado do Paraná, em 1951. Foram incríveis 72 anos de profissão, trabalhando em todos os jornais de Curitiba e praticamente em todos os meios de comunicação do estado. Lulu – como era chamado por familiares e amigos – também atuou na Folha de S. Paulo e Jornal de Brasília. Dono de um texto claro e correto, era polêmico e opinativo. Mazza, impactante, influente e provocador, impressionava os  leitores com sua lucidez e articulação ao analisar a política e a economia nacional e estadual.  Único, o saudoso jornalista Nego Pessoa definiu: “o Mazza é nosso patrimônio público tombado, é o cara da ágora, é o homem do agora”. Mazza respondeu: “Estamos vivos”. Na ditadura foi afastado do jornalismo por 10 anos. Voltou à Procuradoria. Combativo, ao lado de Edésio Passos, organizou a 1ª  greve de jornalistas do Estado. Ele deitou-se na porta do Diário Paraná para impedir que os caminhões saíssem distribuir os exemplares.  Foi diretor do Sindicato dos Jornalistas em duas gestões. Mazza deixa 3 filhos, 7 netos e 5 bisnetos. E milhares de textos históricos para ensinar os jornalistas atuais e os de amanhã. Ele gostava de falar aos jovens. Só nas minhas aulas deu 15 palestras e foi homenageado comigo em várias formaturas. Agora,  o Mazza deve estar acabando com o sossego de São Pedro…”. (Valdir Cruz, jornalista).

Não existirá outro igual a ele

Lorena Aubrift Klenk: “Nossa categoria despede-se hoje de um ícone. É um dia de tristeza, mas também de celebração da vida do Luiz Geraldo Mazza e de seus mais de 70 anos de jornalismo/colunismo. Não existe nem existirá outra pessoa como ele na imprensa do Paraná, com sua veia de polemista, sua memória extraordinária e sua capacidade de contextualizar os fatos. Felizmente nós o homenageamos várias vezes em vida. Mas, hoje, muitos vão contar suas histórias com o Mazza, formando uma espécie de memorial disperso pelas redes sociais. A minha história com ele vem de longe e tem mais de uma faceta. Dona Nair e Albinha, mãe e irmã do Mazza, foram anjos na vida do Hélcio, pai dos meus filhos, quando ele era um menino nas categorias de base do Coritiba. Acolheram ele e outros meninos na casa delas, fizeram bolos de aniversário, deram amparo em momentos difíceis. Quando fiquei grávida do Augusto, hoje com 29 anos, dona Nair fez um edredon, sapatinhos e um saquinho de crochê que ainda guardo. Ao mesmo tempo, por esses caprichos da vida, eu me tornava colega do Mazza na Folha de Londrina, onde, por cinco anos, testemunhei a forma generosa como ele se relacionava com os mais jovens, sem arrogância, mesmo nas divergências (que não eram poucas…rs). Aos 60 anos, 70, 80 ou 90. ele era apenas “o Mazza”, não o “seu Mazza” ou qualquer coisa assim. Redações de jornais eram lugares de companheirismo, alegria, troca e debate. Com o Mazza, era tudo elevado à enésima potência. Ele promovia a troca de ideias, mesmo que isso custasse algum atraso no  fechamento das nossas matérias. Mazza incomodou poderosos com suas críticas (conta-se que Jaime Lerner, ao saber que tinha recebido um raro elogio do Mazza, teria dito algo como “Mas o que eu fiz de errado?”), aliou-se a causas como a briga contra a privatização da Copel, misturou filosofia e poesia às suas colunas políticas e, oriundo do impresso, tornou-se um homem do rádio, formando uma inesquecível dupla com José Wille na CBN. Que vida, Luiz Geraldo Mazza! Que privilégio ter convivido com você. Siga em paz. Aqui, ficamos com saudades. (Lorena Aubrift Klenk, jornalista).

Foto: Michel Willian

Mazza foi grande e nosso

Rafael Greca: “Nosso homenageado com a Ordem da Luz dos Pinhais em 2022 pela sua brilhante trajetória, Luiz Geraldo Mazza fez sua passagem à Eternidade. Nascido em Paranaguá, em 10 de fevereiro de 1931, desde os 9 anos viveu em Curitiba. Formado em Direito pela Universidade do Paraná, brilhou no jornalismo, onde exerceu a força de sua vibrante pena e de sua palavra  firme por mais de 70 anos. Pertenceu à gloriosa redação do jornal “Última Hora”, de importância nacional, do Diário do Paraná, da Gazeta do Povo, da rádio CBN. Foi grande e nosso: forjava opiniões balizadoras, formador de consciência coletiva. Na Academia Paranaense de Letras, para nosso orgulho, era meu confrade. Deixa filhas e inconsoláveis netos. Descanse Em Paz”. (Rafael Greca, prefeito de Curitiba).

Foto: Reprodução/Rafael Greca

Um vizinho muito ruidoso

Israel Reinstein: “Meus pais já eram leitores do Mazza, quando o conheci. Estava no primeiro ano da faculdade de Jornalismo e meu pai arranjou o encontro. Foi rápido e ficou o conselho: leia muito, seja crítico e muito curioso. Mal sabia que anos mais tarde dividiria a bancada com o Mazza. Foi na Folha de Londrina, lá na Mauá. Era meu vizinho ruidoso e conversador. Sempre chegava esbaforido e atrasado. Tinha o mau hábito de beijar e cafungar algumas mulheres. Dividíamos o mesmo telefone. Não raro era contaminado pelos perdigotos e resto de paçoca que Mazza trazia de suas andanças na Boca Maldita. Por isso, o álcool e um pano se tornaram indispensáveis para mim e para o telefone. Era curioso, queria saber o que estávamos fazendo e publicando e das fofocas da redação. Foram cinco anos. Foi com ele que aprendi a me concentrar no texto. Afinal, nem mesmo nos momentos de fechamento do jornal, ele reduzia o tom de sua voz anasalada e os gritos que dava quando entrevistava alguém. Depois de sair da Folha, o Mazza cruzou minha vida ao trabalhar com o Fabio Campana. Os dois se falavam todos os dias. Havia um respeito mútuo, mas ambos conheciam os defeitos de cada um. Não raro o Barba tentava plantar notas no Mazza. Fiquei anos sem ver o Mazza. Antes de ficar mais idoso e menos ativo, ainda o vi caminhando da CBN em direção ao Centro. Passei de carro e ele estava pendurado num galho de uma árvore. Lembrei que uma vez na redação da Folha me disse que fazia isto para se alongar. Vai em paz, meu mestre!” (Israel Reinstein, jornalista).

Mazza é um verbete jornalístico tal a sua grandeza

Logo após saber da partida do Mazza fui à Boca Maldita para ver como ela estava reagindo. Não havia ninguém da velha turma, como já esperava. Entrei num dos cafés e pedi um cafezinho, que degustei sentado como se ele estivesse lá na calçada com o jornal debaixo do braço numa roda de conversa com todos à sua volta atentos ao que falava. Conheci o Mazza logo que cheguei em Curitiba, em 1977. Não demorou muito para nos aproximarmos e trabalharmos juntos. Fui redator de um jornal na hora do almoço na TV Paraná Canal 6, do qual ele era um dos comentaristas. Imaginem a audácia, eu, um foca, escrevendo textos para o Mazza comentar. Na festa de 80 anos dele, quando o entrevistei para meu programa de TV, ele lembrou disso espontaneamente. Foi também colega da minha sogra na faculdade de Direito da UFPR, fato que costumava lembrar. Mazza é um verbete jornalístico tal a sua grandeza. (Reinaldo Bessa, jornalista).

Ontem essa conta foi interrompida…

Fernando Costa Straube: “Essa foto foi tirada em 2016 e retrata uma das tantas conversas entre dois gigantes da cultura paranaense: meu pai Ernani C. Straube e o jornalista Luiz Geraldo Mazza, vizinhos por mais de cinco décadas. Naquele momento, as idades dos dois – se somadas – atingiam a marca dos 174 anos!  Meus sinceros sentimentos aos amigos, admiradores e, especialmente, à família do notável jornalista, cronista e crítico de cotidiano e política. Sentimos todos pela perda, que trará um enorme vazio à comunicação no Brasil. E lamentamos muito por não podermos mais escutar aquela voz rouca inconfundível, que intercalava opiniões ácidas, sempre sustentadas por uma incrível inteligência e bom senso. Ficam as memórias, para sempre, de quando eu brincava represando a água da chuva no jardim do nosso prédio, quando ele – durante vários minutos – explicou-me como seria construída a Usina de Itaipu. Nunca mais esqueci que aprendera ali algumas palavras, como “eclusas” e, ainda, por ter ele me explicado como os animais seriam resgatados do enchimento da enorme represa. Um presente precioso do passado, uma aula de um grande mestre que, naquele momento, gastou parte de seu tempo para compartilhar informações sobre logística, cuidados com a natureza e, ainda, sobre o momento político, em plena ditadura militar. Obrigado, Mazza, por essa e por várias outras lições que nos deu ao longo de sua brilhante trajetória!” (Fernando Straube, biólogo).

Um furacão

Trabalhei pouco mais de um ano na redação da Folha de Londrina que ficava na Marechal Hermes com Mauá, em Curitiba, tendo o Luiz Geraldo Mazza como companheiro de sala. Um furacão no Jornalismo e no agito interno, com o vozeirão sempre a provocar reflexão. Entrevistei-o várias vezes após isso, particularmente quando as reportagens para o Estadão exigiam algum contexto histórico. E o encontrei nos bares da vida. Que tenha agora a resposta à pergunta mais inquietante: o que há, se é que há, por detrás disto? Descanse (embora não o quisesse), Mestre! (Evandro Fadel, jornalista).

Nos tempos sombrios da ditadura

Alexandre Curi : “O jornalismo paranaense amanheceu de luto com a perda de Luiz Geraldo Mazza, um dos mais renomados jornalistas da história do nosso estado. Inspiração para várias gerações, Mazza exerceu a profissão que tanto amava até seus últimos dias de vida, como comentarista da CBN e colunista do jornal Folha de Londrina. Crítico, rigoroso, implacável, Mazza não apenas noticiava, ele pautava o debate político no Paraná. Defendeu o jornalismo imparcial até mesmo nos tempos sombrios da ditadura militar, arriscando sua vida em nome da liberdade de expressão. Não o calaram. E tivemos o privilégio de ler, ouvir, debater e aprender com Luiz Geraldo Mazza até seus 93 anos. Toda a minha solidariedade à família e aos amigos neste momento de perda e dor”. (Alexandre Curi é deputado estadual).

Foto: Reprodução

Sou grato pelo muito que me ensinou

Ney Leprevost: “O Paraná perdeu nesta quarta-feira um dos maiores jornalistas da nossa história. Luiz Geraldo Mazza faleceu aos 93 anos. Sou muito grato pelo muito que ele me ensinou. Mazza foi exemplo de integridade, humildade e bom senso. Orientava os jovens. Enfrentava os poderosos com imensa coragem. Seguia um padrão elevado de ética na sua condição de jornalista. Não vendia sua opinião, não se submetia ao sistema, não se acovardava diante dos governantes de plantão. Seu único compromisso era com a verdade. Toda vez que eu o ouvia na CBN, me recordava do grande estadista romano Marco Túlio Cícero. Foi por sugestão do Mazza que estudei a vida e a obra deste grande homem. O Mazza era amigo do meu avô, doutor Ney Leprevost. Estivemos mais próximos nos últimos anos devido a valiosa participação do seu neto, um rapaz de muito bom caráter e excelente jornalista, na minha equipe da secretaria de Justiça, Família e Trabalho. Mazza foi chefe de reportagem e editor de opinião no Diário do Paraná e na Última Hora. Também trabalhou em diversas redações; como Correio de Notícias, Folha de Londrina, Indústria e Comércio e Folha de S. Paulo. Era membro da Academia Paranaense de Letras. Dirigiu o telejornalismo da TV Paranaense Canal 12, colaborou com o Diário da Tarde e o Diário do Comércio, além de inúmeras revistas regionais. Foi por muito tempo colunista da Folha de Londrina e comentarista político da rádio CBN. Nossa solidariedade aos amigos, fãs e familiares neste momento de despedida. Que Deus conceda ao Mazza a paz eterna e a alegria infinita do reino do céu!” (Ney Leprevost, deputado estadual).

Foto: Reprodução

Piruetas e bagunçando a redação

Mari E. Tortato: “Lembrei do Mazza fazendo o box “Picardias da greve”, a partir de relato meu, ainda meio foca, na cobertura da greve dos metalúrgicos, no Correio de Notícias da Amintas de Barros, em 1978. Ele se divertindo conforme saia o texto. Lembro do Mazza fazendo piruetas e bagunçando a tensão do fechamento, na redação do Correio da Benjamin Constant… Do Mazza botando fogo na discussão do assunto do dia, na redação da Folha de Londrina, da Mauá. Do Mazza perdendo a coluna pronta no começo da informatização e, bravo, refazendo tudo de novo… Um eterno rebelde, que nos ensinava, nos divertia, nos cobrava, nos instigava, nos fazia melhores…” (Mari Tortato, jornalista).

Foto: Reprodução

Frente a frente com um gigante

Simone Mattos: “Faço parte de uma geração privilegiada de jornalistas que tiveram a chance de conviver com o mestre Luiz Geraldo Mazza. Quando iniciei na sucursal de Curitiba da Folha de Londrina, com apenas 22 anos e ainda antes de me formar, me deparei com aquele gigante na redação. A primeira impressão, de receio, foi rapidamente modificada por profunda admiração e respeito. Com imensa sabedoria, Mazza era divertido e generoso, dividia o que sabia e ensinava mesmo sem querer. Aprendi muito com ele nos anos em que convivemos no jornal e em décadas de amizade. Mazza será sempre o nosso mestre”. (Simone Mattos, jornalista).

Foto: Michel Willian

Uma voz que alertava

Michel Willian: “Hoje o Paraná perdeu um dos seus mais ilustres filhos, nosso amigo Luiz Geraldo Mazza, nos deixa um legado maravilhoso! Uma voz que gritava no deserto alertando sobre as mazelas da vida, principalmente da política do nosso estado. Tive o prazer de trabalhar ao seu lado por três anos no início da minha carreira, sua sabedoria, simpatia e humildade contagiava a todos na redação da Folha de Londrina. Sentiremos a sua falta, mas a sua presença estará sempre em nossos corações. Que o Senhor esteja com você amigo e conforte seus familiares e amigos que te amam pra sempre”. (Michel Willian é jornalista).

O Lulu

Luiz Geraldo Mazza foi obrigado a abandonar o ringue, depois de 70 anos de luta diária pela notícia. Foi o maior jornalista paranaense, atuando diariamente em jornal e rádio com suas análises sobre todos os assuntos, fosse qual fosse a pauta.

Minha primeira matéria de jornal escrevi para a Folha de Londrina, na redação na Praça Osório, a pedido do Dias Lopes. Mazza era o chefe da sucursal. Ficamos amigos desde então, 1971.
O seu conhecimento das coisas do Paraná era enciclopédico, assim como sua competência em narrar os fatos. Tinha vistode tudo, a partir dos anos 1940.

Tanto que criei uma história, na qual ometeoro que extinguiu os dinossauros havia caído em cima do que depois passou a serCuritiba, cidade cercada por serras, causadas pelo impacto. Com o decorrer dos séculos, quando a grama já tinha voltado a crescer, debaixo da imensa pedra saiu o Mazza, único sobrevivente da catástrofe. A partir do que, passou a contar tudo o que havia testemunhado.

Mazza foi o símbolo da Boca Maldita sem registro informal. Não a da entidade oficial, com seus jantares exclusivos para homens. A Boca Maldita do Mazza era configurada em frente ao café, onde pontuava todos os dias durante horas, muitas vezes colhendo ali a matéria para seus comentários.
Seus amigos trapaceiros (Jamil Snege, Fábio Campana, Nego Pessoa) inventavam histórias sobre ele, como a do peixe. Em um sábado, Mazza teria passado na feira e comprado peixe para o almoço a ser preparado pela Lucy, sua paciente companheira desde sempre. Aconteceu que a conversa na Boca estava animada e Mazza foi ficando. Às seis da tarde, o peixe começou a exalar seus eflúvios, o jornal já estava encharcado, a camisa do Mazza toda molhada a partir do sovaco – e ele não tomava o caminho de casa.

Outro episódio garantia que, incomodado por não ter sido preso com o pessoal da Última Hora, onde trabalhava quando do golpe de 1964, telefonou disfarçando a voz para o delegado Miguel Zacarias, do DOPS, o órgão responsável pelas prisões, dizendo que o perigoso subversivo Luiz Geraldo Mazza estava fazendo agitação na Boca. O delegado teria respondido: Mazza, não incomode, preciso trabalhar. E bateu o telefone.

Foi generoso com todos os jornalistas novatos, inclusive com meu filho Fábio, de quem foi colega na CBN por 15 anos. Mesmo com o piá fazendo uma imitação perfeita do mestre. Ele ria. Quando concorri à vaga na Academia Paranaense de Letras, Noel Nascimento, sem me conhecer, foi buscar informações com o Mazza. Lulu havia lido um livro meu, cedido pelo Campana, e rasgou elogios. Ambos votaram em mim, fui eleito.

Não era de frequentar a Academia. Durante alguns anos compareceu às solenidades, composto conforme a etiqueta, de gravata e pelerine, levado pelo professor Ernani Straube, seu vizinho de prédio. A última vez foi em dezembro de 2016, quando da minha eleição à presidência da casa.
Era uma injustiça que ele, com milhares de colunas ao longo de oito décadas, não tivesse uma coletânea de sua produção em formato livro. A sorte é que temos a Miriam Karam, espécie de filha afetiva, que foigarimpar os arquivos da Biblioteca Públicapara, enfim, vermos publicado o Livro do Mazza, documento essencial para entendermos seu rigor, o caráter intimorato, a intransigência com os vacilos dos donos do poder e o humor que muitas vezes permeava seus comentários.

Mazza, nosso velho Lulu, merece ser estátua, nome de avenida, de estádio do Coritiba e de espaços da comunidade curitibana. Só não de prédios públicos, porque tal desfeita será capaz de fazê-lo voltar a rugir e descarregar maldições eternas sobre todos nós, não sem antes reunir Jamil Snege, Fábio Campana e Nego Pessoa para desancar o porrete em nossa ingratidão e petulância. (Ernani Buchmann, jornalista e escritor).

Foto: Michel Willian

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