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O que temos a ver com a Guerra da Ucrânia?
Fotos: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil e Gabinete da Rússia

O que temos a ver com a Guerra da Ucrânia?

O Brasil, contra seus próprios interesses e a tradicional posição de defesa da democracia, tem um governo de esquerda que apoia e financia Putin, um criminoso.

Pedro Ribeiro - terça-feira, 11 de fevereiro de 2025 - 10:35

Por Otávio Duarte

Acontece bem longe daqui.

Lula não se abala com a invasão pela Rússia, com os bombardeios diários sobre a população, as mortes que já passam de centenas de milhares, a destruição do país. Ignora as sanções internacionais contra o invasor e aumentou as compras do óleo russo. Assim como Bolsonaro, que prestou vassalagem ao ir a Putin na Rússia.

É também o que Lula faz, e que só o antiamericanismo primário e rancoroso explica, na união de ditaduras em torno dos Brics. Ao tentar criar um eixo alternativo de poder, fora da influência dos Estados Unidos e dos países europeus, Lula nos associa com os piores regimes do planeta: a própria Rússia imperialista, ao modo dos falecidos impérios czaristas; o Irã, ditadura religiosa que mata mulheres na rua; a China, ditadura ferrenha que abraçou o mercado livre e sem tarifas que livrou o país da miséria comunista e, agora, novos chegados que detestam a democracia.

Sonhos de uma noite de verão de governantes autoritários?

Parece ser pior do que isso.

Se houve um legado das duas grandes guerras que devastaram a Europa e boa parte do mundo no século vinte, foi o da criação de mecanismos para regular as relações internacionais e evitar conflitos. A ONU é a organização mais conhecida e, na economia, acordos como o de Breton Woods, estabeleceram regras para o comércio internacional, com a criação do Banco Mundial e do FMI, o Fundo Monetário Internacional.

Mas isso valia mesmo era para o chamado Mundo Livre, porque a Rússia, fortalecida pelas vitórias na Segunda Grande Guerra, estabelecera controle férreo sobre os vizinhos, com a URSS, União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, que também dominava a maioria dos países do Leste europeu, com governos fantoches.

E havia, então, a Guerra Fria, disputa de poder mundial entre os países capitalistas, que preferiam se chamar democráticos, porque tinham eleições regulares e alternância de poder, e o bloco monolítico comunista, que incluía a China.

Muito aconteceu, golpes militares, intervenções, revoluções, guerras da Coreia e do Vietnam, outras tentativas nessa disputa e uma crise maior, a dos mísseis em Cuba, que quase levou a um conflito nuclear.

Essa guerra teve um vencedor claro: a democracia. Os países que a praticavam se desenvolveram e deram qualidade de vida às suas populações.

O socialismo soçobrou, sem liberdade, sem democracia e sem alternativas. A União Soviética acabou e a maioria dos países satélites ganhou independência. A China ficou comunista apenas no controle político do país.

Nesse mundo conturbado, houve paz no mundo desenvolvido. Não no Oriente Médio, não na África, não em outras regiões.

E o que a guerra da Rússia na Ucrânia traz de novo? Primeiro, que não é nova, a Rússia já tinha invadido a Crimeia ucraniana e parte da Georgia. O ultraje é que se trata de ação imperialista pura e simples, da tomada de nações vizinhas pela força, nos moldes do nazismo e das guerras do século 19.
Contra isso, as nações democráticas vizinhas aumentaram o alinhamento à Otan, criada para enfrentar a velha União Soviética, e isolando a Rússia. Inclusive Suécia e Finlândia, que mantinham políticas de neutralidade há décadas.

Porque todos temem a Rússia. É comum o sentimento de que o país de Putin está em guerra não declarada contra a Europa. Guerra física na Ucrânia, para impedir a sua própria existência e associação ao Mercado Comum Europeu. Guerra subterrânea, com notícias fake para solapar a unidade ocidental, como na votação do Brexit no Reino Unido e na primeira eleição de Trump à presidência dos Estados Unidos. Com financiamento a políticos e governos de extrema direita.

E ela cresce. Os governos democráticos da Europa permitiram políticas de imigração que geram reações fortes, principalmente quanto aos oriundos de países islâmicos. A pandemia da Covid gerou gastos que geraram inflação, aumentados pela própria guerra da Rússia na Ucrânia, já que muitos países dependiam do combustível russo para suas economias, inclusive no aquecimento das casas.
Governos centristas perdem eleições e estão ameaçados pelo crescimento da direita.

Agora, eles ganham força com o governo de Trump nos Estados Unidos, que explode as relações de décadas com os aliados ocidentais, voltado, ao que parece, para ignorar as relações do comércio internacional que os americanos sempre defenderam, e alegações esquisitas de desejo de posse de outros países, incluindo o Canadá e a Groenlândia.

E o Brasil, contra seus próprios interesses e a tradicional posição de defesa da democracia, tem um governo de esquerda que apoia e financia Putin, um criminoso, e uma oposição de direita, com Bolsonaro, que também o admira.

Além de Trump, o valentão da classe.

Vamos ver o que Lula fará, numa situação muito diferente da herança que recebeu de FHC.

Foto: acervo pessoal

Paranaense nascido em Campo Mourão, Otávio Duarte é jornalista e escritor.

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