O guarapuavano inspirador da homenagem ao Dia do Médico
Eurico Branco Ribeiro, médico, jornalista, escritor e filantropo nasceu no Paraná e foi um dos primeiros inscritos no CRM de São Paulo
Dezoito de outubro é comemorado o Dia do Médico. Tem inspiração na data consagrada pelos cristãos para reverenciar São Lucas, evangelista, médico e artista. A exemplo do Brasil, é o patrono dos médicos e artistas em países de base cristã, como Itália, Portugal, França, Espanha e Polônia. Outras nações têm datas próprias para homenagem, como o Canadá, em 1° de maio, numa referência à primeira médica do país, ou Estados Unidos, em 30 de março, destacando a primeira cirurgia com anestesia, em 1842.
Na passagem desta data, a reverência aqui a todos os médicos que fizeram e fazem história no nosso Brasil, assim como milhares de jovens presentes nas escolas médicas alimentando o sonho de exercer uma profissão que ainda é sinônimo de status e credibilidade, apesar do processo de desgaste de imagem por força da mercantilização e deficiências no modelo formador. Esta análise, porém, será pertinente noutro momento.
Contornando a missão impossível de historiar ou nomear todos os profissionais que cumpriram ou cumprem com retidão a sua missão hipocrática, buscamos a curiosidade sobre quem idealizou no País a comemoração do Dia do Médico em 18 de outubro, para assim homenagear a todos, incluindo os 600 mil hoje em atividade no território nacional – 38,5 mil deles no Paraná.
Pois então. A mentoria é imputada ao guarapuavano Eurico Branco Ribeiro, médico, jornalista, escritor e filantropo. Nascido na cidade do Centro-Oeste paranaense em 29 de março de 1902, seguiu aos 13 anos para a capital paulista, cidade de origem do pai. Formou-se pela USP em 1927 e especializou-se em cirurgia geral, tendo concentrado a sua carreira profissional em São Paulo, onde foi um dos primeiros inscritos no CRM estadual (recebeu o número 119). Dentre muitas atividades, foi diretor do Sanatório São Lucas (bairro Liberdade) a partir de janeiro de 1939, trabalhando no local até o final da vida.
O Dr. Eurico foi o fundador da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores, sendo seu patrono desde 1994. Falecido em 1° de março de 1978, em São Paulo, ele foi membro dos colégios Internacional, Americano e Brasileiro de Cirurgiões, além de integrar a Associação Argentina de Cirurgia e Sociedade de Gastroenterologia do Uruguai. Fez parte ainda a Sociedade Paulista de História de Medicina, Academia Brasileira de Medicina Militar e Academia Paulista de Letras, dentre outras organizações.
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Como jornalista, foi redator da edição vespertina de “O Estadinho”, do jornal O Estado de S. Paulo e repórter policial da Folha do Norte. Na adolescência tinha sido articulista nos periódicos A Nação e A Comarca, ambos de Guarapuava. Foi autor de dezenas de artigos científicos e de pelo menos 30 livros, incluindo História de Guarapuava (1922); O coração do Paraná (1929); Gralha Azul (1927); Esboço da história no oeste paranaense; A sombra dos pinheirais (1925); Viagem às Sete Quedas (1939); O livro que Lucas não escreveu, Médico, Pintor e Santo; e Lucas, o médico escravo. Toda renda de suas obras foi doada a instituições de caridade.
Mentor do Museu Visconde de Guarapuava e da Biblioteca Ruiz de Montoya, em Guarapuava, o médico e escritor recebeu inúmeros títulos e comendas, como o de Cidadão Honorário de Curitiba, da Ordem do Mérito Médico do Governo Brasileiro e Prefeito Honorário de San Antonio (Texas). Seu nome ainda está inserido como patrono da Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina e patrono da cadeira 26 da Academia Brasileira de Médicos Escritores.
Cristão devotado, o Dr. Eurico foi intenso em sua pesquisa sobre São Lucas, tendo lançado em 1969 a primeira das obras sobre o personagem, “Médico, Pintor e Santo”, com mais de 600 páginas em quatro volumes. No livro, ele resgata que a Universidade de Pádua, na Itália, começou o seu ano letivo de 1463 em um dia 18 de outubro para homenagear São Lucas, anunciado patrono do Colégio dos Filósofos e Médicos. Seus estudos e publicações fizeram com que fosse considerado um dos maiores entendedores da figura cristã em todo o mundo.
Entre as entidades médicas brasileiras, como os Conselhos de Medicina, são muitas as homenagens inspiradas no patrono para reverenciar médicos destacados em seu papel na ciência, nas artes e nas ações humanitárias. O CRM do Paraná instituiu a deferência em 1996, após proposição do Professor Ehrenfried Wittig, ele próprio distinguido com a comenda em 2011, em reconhecimento ao seu trabalho como pioneiro e introdutor no Paraná de programa de triagem neonatal, o Teste do Pezinho. O seleto grupo de homenageados inclui Zilda Arns Neumann, Ivan Beira Fontoura e José Raul Mate, o Padre Raul, todos com destacado papel social. Que seus exemplos sejam marcantes no espírito comemorativo desta data celebrada aos médicos.
Como lema de vida e ex-libris de seus livros, Eurico Branco Ribeiro escolheu a célebre frase de Hipócrates, que, aliás, estava estampada no vitral de sua janela: “Conservarei puras a minha vida e a minha arte”. As pessoas que conviveram com ele registraram que “ele dignamente assim o fez”.
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