Tempos de empulhação…e de bombas
“ O catarina aloprado e extremista fez mais que explodir a bomba que estava dentro do seu carro estacionado perto da Câmara dos Deputados, em Brasília, e de se detonar com outra bomba em frente à sede do STF. Implodiu artigo de ex-presidente em Defesa da Democracia publicado dias antes no jornal Folha de São Paulo, e pode ter sepultado projeto de anistia aos golpistas de 8 de janeiro, ele incluso”
A prática política no país, nos últimos tempos, virou uma empulhação tão grande e caricata, com a normalização e banalização até do mais grotesco engodo, que a tudo o que se assiste hoje tem ganhado a dimensão de que o certo é que está errado e o errado é que está certo. Parece que houve um processo acelerado de criação de espertinhos e de espertalhões, na velocidade contínua em que se fazem as ninhadas de coelhos e que se reproduzem já fora de qualquer controle. Pode ser até que seja o ritmo que sempre houve, mas havia um antes um certo pudor e dissimulação, que hoje é coisa dos baús mofados do passado. Nunca a coelhada – para fazer prevalecer e metáfora comparativa-, esteve tão descaradamente abusada, sem freios e sem controle, a bicharada perdeu de vez qualquer vergonha.
E nem se trata da abordagem sobre as tenebrosas e irrefreáveis transações que fazem, da mão leve que há tempos anda à solta, dos favorecimentos, propinas, prebendas, e outras traquinagens criminosas e pecuniárias com recursos do tesouro deste de país de coqueiro que dá coco. A lista é longa e dominante, não separa esferas de poder político e se estende contaminando outras instituições de poder. Já é de percepção comum, o que carece de se estender no assunto, a cada dia que passa alguém surge, do mais ousado ao mais inusitado expediente que se incorpora como exemplo ao acervo das delinquências. Já não causam espanto, passam apenas a ficar incorporadas a vida nacional.
Para não se estender muito, vale lembrar o caso da eleição recente, do candidato a prefeito de Orós, a cidade cearense que ficou conhecida do mapa brasileiro por ser a terá natal do cantor e compositor Raimundo Fagner. Eleito, renunciou imediatamente ao cargo para que sua mãe, que era a candidata a vice na sua chapa, assumisse a prefeitura. Filho pródigo. Isso tudo na maior normalidade, sem ninguém para questionar o ludibrio eleitoral. Desses casos existe aos borbotões Brasil afora, muda a modalidade, mas a safadeza já se tornou universal.
Agora, a chave do ouro é do ex-presidente imbrochável e inelegível que acredita ter pintado um clima e publica artigo assinado em defesa da democracia no jornal Folha de São Paulo. Não importa o paradoxo do conteúdo do artigo a quem ainda pode ser preso, condenado por ser o principal articulador e mentor de conspiração e tentativa de golpe de Estado, com a invasão e quebradeira das sedes dos três poderes em Brasília por baderneiros aloprados e extremados, estimulados por ele e seus probos comparsas, civis e fardados.
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Tudo parecia estar andando de acordo com o clima desses tempos estranhos,em que a normalidade da prática a política anda de cabeça para baixo, de ampulheta virada, até que surge um catarina aloprado e aliado que resolve explodir seu carro no estacionamento da Câmara, em Brasília, e se detona com outra bomba em frente à sede do SFT, depois de tentativa de invasão. Extremista do terror com produção de artefatos explosivos usando bombas de rojões de fogos de artifício, algo tão patético que só comprova os tempos de práticas políticas estranhas em que vivemos.
O suicida, agora ex-tudo, antes candidato a vereador em Rio do Sul (SC) pelo PL, o mesmo partido do ex-presidente, fez mais do que se explodir junto com as bombas caseiras que detonou. Implodiu o artigo do inelegível, da primeira à última linha. De quebra, parece ter sepultado junto qualquer possibilidade de a Câmara dos Deputado conceder anistia aos criminosos presos pelos atos de vandalismo golpista de 8 de janeiro, cuja possibilidade até então era ameaça de mais um exemplo desses novos tempos de prática política reversa, tempos de ampulheta e de empulhação.
Alceo Rizzi é jornalista, publicitário e escritor.