Quando a farda protege o crime
“ Os desmandos, torturas e abusos criminosos praticados por policiais militares de São Paulo contra cidadãos, tem seu lado didático e de alerta sobre aquilo que o país conseguiu evitar de pior com outros agentes fardados”.
Os atos odiosos e imperdoáveis de selvageria praticados por policiais militares de São Paulo em abordagens de cidadãos da capital, assistidos nas últimas semanas, além da violência inexplicável, tem seu lado didático como exemplo naquilo em que ainda pior o País poderia se transformado, tivesse definitivamente obtido êxito a famigerada tentativa de golpe de Estado por oficiais do Exército Brasileiro, sob comando do ex-presidente de instintos primitivos.
Se a situação agora já beira ao descontrole, aparentemente estimulado pela reprodução, na prática, dos discursos oficiais de governantes, como o de São Paulo, a respeito da banalização do emprego da força e da violência desmedidas, e da tolerância aos desmandos policiais, não é difícil de imaginar o que seria do Estado totalitário comandado por gente da mesma desqualificação desses criminosos fardados.
Se hoje, marginais com instintos assassinos já se utilizam da farda, da mais graduada, à exemplo de generais de Exercito envolvidos em conspiratas, às mais rasas que sejam, para invocar poder e autoridade sobre cidadãos que lhes pagam salários, fica evidente o salvo-conduto que teriam para a prática de torturas, crimes e de toda sorte de terror e delinquência. Pretensamente no critério de estarem em cobertura, por se constituírem autoridades, ainda e principalmente, pelo poder usurpado à força, de representação ainda mais criminosa. “Eu sou eu e minhas circunstâncias”, para lembrar o espanhol José Ortega y Gasset.
A História brasileira de passado relativamente recente e à exemplo de Estados totalitários em formas diversas no planeta em quadras distintas, são acervos de exemplos de crimes humanitários e de terror necessários de serem sempre lembrados, e não há despropósito que se estabeleça paralelos com manifestações de desprezo à condição humana com estas, de selvagerias a que se assiste por marginais fardados de policias militares.
Nem por um espectro nem por outro, à direita ou à esquerda, não se medem pela régua de ideologias, que podem ser distintas mas de mesma prática odiosa e condenável de submissão e desprezo à condição humana em sua plenitude.
O que parece apenas acontecer em São Paulo, pelos flagrantes registrados de comportamentos injustificáveis de agressões, desmandos, torturas e mesmo impunidades de policiais, também ocorre em outros estados e serve de alerta. São deploráveis, execráveis, imperdoáveis. Mas são didáticos.
Alceo Rizzi é jornalista, publicitário e escritor.