Coluna Alceo Rizzi
O Brasil diante da ordem de despejo

O Brasil diante da ordem de despejo

“O que há em comum entre um ex-ator despejado de sua casa e a próxima eleição???.”

Alceo Rizzi - segunda-feira, 23 de setembro de 2024 - 11:31

Tem coisas que acontecem e que, em tese, seriam despropositadas de qualquer associação, mas que não deixam de ter correlação dentro de outra ótica, ainda que aplicadas apenas para reflexão ou exercício retórico paralelos.

Tome-se, para devidos efeitos, fatos recentes do cotidiano político do País, com ênfase às eleições para prefeitos e vereadores no próximo dia 6 de outubro e, na mesma geleia geral, acrescente-se o drama pessoal e familiar de uma subcelebridade televisiva e ex-ator de telenovelas, despejado de sua casa na praia, no Rio de Janeiro, por falta de pagamento de suas dívidas.

Em toda eleição que acontece a cada dois anos, como é de se esperar, renovam-se promessas e proselitismo políticos de candidatos acenando com mundos e fundos, acesso de todos ao paraíso. Nem todos são assim, necessário que se ressalte à luz de senso de justiça, mas desses quase já não se produzem tantos ou mais como antigamente. Proliferam os outros, feito coelhos.
Passadas as eleições, os quinhentos são outros.

À estes, importa é a carga de agressividade moralista e, de um tempo para cá, de proselitismo ideológico exacerbado para tentar convencer o eleitor de um jeito ou de outro, quando não são eles próprios traídos pelas suas biografias. Ou, no caso, por boletins de ocorrências, ainda que sem condenações ou inocências em sentenças de processos motivados por denúncias sobre as mais variadas delinquências cometidas.

Não parece à toda, por exemplo, que quase 30 prefeitos de Santa Catarina já tenham sido presos por mal-feitos e malversação de dinheiro público, logo eles, todos, eleitos com forte pregação contra a corrupção, casualmente de partidos aliados a um ex-presidente, também condenado e inelegível mas ainda em liberdade.

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Nesta próxima eleição, para ficar apenas em um exemplo da nossa própria cozinha, apenas à título ilustrativo, surgem agora denúncias escabrosas do candidato a vice de uma candidatura à prefeito de Curitiba, de direita extremada, cuja assombrosa disfunção cognitiva de liderança de chapa, por ludibrio de artimanhas, sabe-se lá por quais doentios desígnios, talvez jamais pudesse ter permitido tal exposição de ridículo. Mas acontece!

Gente com confissão de forte moralidade, de pregação à luta incessante contra a corrupção de toda a espécie, principalmente a alheia, visto que diferenciados que são, moralmente e em probidade, o que ninguém tem direito de duvidar. Com raivoso discurso ideológico, desses do século passado. Afinal, como justificou a candidatura à prefeito, em defesa de seu vice, no Brasil processa-se por tudo, importante é que haja julgamento. De fato! É de se esperar, ainda que o vice alegue perseguição política diante do crescimento avassalador da candidatura extremada, com forte possibilidade de vitória. Que coisa!

Ainda que não tenha relação direta, em essência e conteúdo, com o que se passa nessa seara e nestes casos, não há como deixar de lembrar do episódio traumático da sub-celebridade carioca despejada junto com sua família de sua casa por ordem judicial por falta de pagamento de dívidas. Ao ser despejado, ex-ator de telenovela culpou o que classificou como governo corrupto como sendo o responsável pelo seu drama, usou as redes sociais digitais para pedir a seus seguidores que ” marcassem” o ex-presidente inelegível, a deputada que saiu empunhando revólver pelas ruas de São Paulo e outros probos, na tentativa de conseguir socorro e também ” ajudar a mudar e a salvar o país”.

Em nenhum momento se referiu ao seu despejo por causa de dívida trabalhista de salários não pagos para dezenas de costureiras de uma confecção que possuía no Paraná, ou de dívidas com IPTU de sua casa na praia da Joatinga, no Rio de Janeiro. Valor total de um calote de quase 1 milhão de reais. Mas, ainda assim, a culpa era do governo corrupto, coincidentemente o mesmo arrazoado de gente com distúrbios cognitivos lá e cá, por mais que se tente, por alguma ou outra pantomima, parecer que se levem a sério. É o retrato do Brasil e seu falso moralismo. Procura sempre mudar ou dar retoques em sua imagem, mas continua do mesmo jeito! Corruptos são sempre os outros!

Alceo Rizzi é jornalista, publicitário e escritor

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