Coluna Alceo Rizzi
Golpe de grandeza inútil
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Golpe de grandeza inútil

“Na trama dessa tentativa criminosa de golpe militar revelada pelas investigações da Polícia Federal, impressiona a baixa frequência intelectual de muitos dos conspiradores”.

Alceo Rizzi - segunda-feira, 2 de dezembro de 2024 - 12:45

Algumas revelações que surgem nesse macabro enredo de tentativa de golpe de Estado militar chegam a causar consternação, não pelo sórdido e criminoso intento dos aloprados autores, oficiais do Exército, de baixo extrato moral, mas pelo que elas trazem de amostra da mais assustadora ausência de capacitação e de qualificação, não apenas profissional.

Chega a ser comovente, ao mesmo tempo em que deprimem as demonstrações da condição intelectual de seus autores. Não parece crível que oficiais do Exercito Brasileiro que, em tese, deveriam ter preparação de excelência, em consequência até mesmo da formação que poderia haver pelas graduações em caserna, alguns deles até considerados de elite da tropa, sejam tão apalermados e cometam trapalhadas tão desastrosas, patéticas e pueris. Tanto de comportamento como de cognição no decorrer da longa e sórdida trama criminosa do golpe de Estado fracassado.

Nem mesmo nos filmes pastelões, de ficção e de baixos orçamentos, poderia se imaginar alguém envolvido em mais altas conspirações, para submeter um país ao tacão da força ditatorial, com tamanha aptidão e capacidade imaginativa para se produzir tantas trapalhadas e patetices, ainda que se trate de grave crime.

A começar pelos principais suspeitos do ato criminoso, seus generais fraldados ou ainda desfraldados, que se reúnem em conspiratas em suas próprias casas, isso tudo sem mencionar o titular absoluto que deixa guardada em gaveta de sua escrivaninha, na sede de seu partido político, uma minuta de quatro páginas com texto do discurso a ser proferido depois de consumado o golpe que fracassou.

Nem se mencionam militares de médias patentes e integrantes dos chamados Kids pretos, treinados para chamadas guerras clandestinas e irregulares, igual aquele que falsifica documento e consegue obter linha de telefone usando uma carteira de motorista fotografada de terceiros.

Fotografa pelo celular com uma mão a carteira segurada em outra, é identificado pelas digitais dos pares de dedos que aparecem juntos. Pieguice criminosa.

LEIA TAMBÉM:

O que se revelava antes apenas como sendo um lapso a gravação de video naquela reunião de teor conspiratório, no Palácio do Planalto, quando o ex-presidente e seus generais- um deles agora preso- nada mais parece ter sido que um ato-continuo de genética disfunção cognitiva, feito síndrome coletiva naqueles tempos de pandemia do vírus da Covid.

Chega a causar consternação ver como a condição humana muitas vezes é implacável, como acontece neste caso em que a racionalidade se depara com esses espetáculos de deprimente discernimento, tanto cognitivo como moral, ético, de gente que deveria, pelo menos, se resguardar e não se revelar à público a constrangedora grandeza de sua inutilidade.

E parece que não são poucos os que assim se graduam, ainda que haja aqueles com noção de pertencimento e não embarcam em aventuras criminosas. E parece que são muitos. Tomara que sejam!!

Alceo Rizzi é jornalista, publicitário e escritor

Compartilhe