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‘PSD tem que ser protagonista, não uma sublegenda’, diz Ratinho Junior
Foto: Roberto Dziura Jr/AEN

‘PSD tem que ser protagonista, não uma sublegenda’, diz Ratinho Junior

Cotado para a eleição presidencial de 2026, governador do Paraná critica política fiscal do governo Lula e diz que cansaço com a polarização abre espaço para ‘moderados’.

Pedro Ribeiro - quinta-feira, 13 de março de 2025 - 10:28

Em sua caminhada nacional para viabilizar a candidatura à Presidência da República nas eleições de 2026, o governador paranaense, Ratinho Junior (PSD), tem focado seu discurso no potencial que seu partido representa, onde entende que ele tem que ser protagonista e não uma sublegenda. Para ele, o PSD tem votos em todo o país, tem base sólida de candidatos competitivos e, por isso, deve liderar chapa e influenciar o cenário político. Na visão do governador, se o partido aceitar ser sublegenda, pode perder poder e relevância. Este foi o recado dado por Ratinho Junior em entrevista concedida ao jornal Valor Econômico, publicado nesta quinta-feira (13). A seguir, a entrevista:

Favorecido por safras agrícolas extraordinárias, que permitiram ao PIB paranaense crescer em taxas acima das do país, o governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), demonstra interesse em ser candidato à Presidência. Ratinho Junior ainda aguarda definições do partido, comandado por Gilberto Kassab, sobre 2026. Nesta entrevista ao Valor, o governador compartilha ideias para o desenvolvimento do país.

Ratinho Junior Gilberto Kassab
Foto: Reprodução/Redes Sociais

O governador defende um corte de gastos que incluiria reformas administrativa e previdenciária, com possível discussão de aumento da idade mínima para aposentadoria. Ratinho Junior não descarta revisão de auxílios, como o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Nessas reformas, fala da necessidade de “rever direitos”. Ele frisa, porém, que os direitos adquiridos devem ser mantidos.

Sobre o cenário eleitoral de 2026, avalia que há um cansaço da polarização protagonizada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e tenta se colocar como moderado. O governador ressalta que o Paraná, com uma das maiores economias do país, “naturalmente projeta” seu governante no cenário nacional, e cita o fato de o PSD ser o partido que mais cresceu nas eleições de 2024. A sigla venceu em 891 cidades, onde vivem 37 milhões de pessoas. “O partido tem que ser um protagonista no processo. Não dá para ser uma sublegenda de um projeto”, diz sobre a disputa presidencial de 2026.

O governador pondera que o lançamento de uma candidatura própria pelo PSD ainda está em discussão, sem prazo para definição. O partido tem três ministérios no governo Lula (Minas e Energia, Pesca e Agricultura). Uma ala da sigla, que avalia apoiar a reeleição de Lula, tenta ampliar o espaço e está de olho no Turismo. Outra parte do PSD apoia Bolsonaro, apesar de o ex-presidente estar inelegível. Há ainda os que avaliam aliança com Tarcísio de Freitas (Republicanos), caso o governador de São Paulo dispute a Presidência. Kassab, secretário de Governo de Tarcísio, diz que o governador tentará a reeleição em 2026.

Se Bolsonaro não conseguir reverter a inelegibilidade, Ratinho Junior acredita que a centro-direita terá pulverização de candidaturas.

Ratinho Junior diz que o mercado está “ansioso e preocupado” na definição dos candidatos. O governador ressalta a desconfiança em relação ao cenário fiscal. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, diz, “tem se esforçado em acertar, mas não tem conseguido força política” para encaminhar um ajuste.

A questão fiscal, diz, é uma das fontes da desvalorização cambial. “Ter equilíbrio fiscal ajuda a manter o câmbio mais controlado.” O câmbio é o principal fator para a alta de preço de alimentos, grande preocupação do governo, que tem afetado a popularidade de Lula.

A seguir, trechos da entrevista concedida ao Valor.

Valor: O senhor vai participar do ato pró-Bolsonaro no Rio?
Ratinho Junior: Não vou. Nunca fui a esses eventos. Acho que a anistia deve ser revista, tem gente injustiçada, mas não vou.

Valor: Que avaliação o senhor faz do quadro eleitoral de 2026?
Ratinho Junior: Existe um cansaço da polarização. As eleições municipais deram um perfil do que a sociedade quer, mais moderado. Vai caminhar para isso.

Valor: O senhor se encaixaria nesse perfil mais moderado?
Ratinho Junior: Busquei isso no Paraná. Quando me elegi, vim com a missão de dar apaziguar o ambiente do Estado, de criar uma relação madura com os poderes constituídos e os órgãos de fiscalização. Conseguimos trazer ambiente tranquilo, o que possibilitou R$ 300 bilhões de novos investimentos em cinco anos. Quando assumi, o PIB do Paraná era R$ 420 bilhões. Este ano deve fechar perto de R$ 715 bilhões. No ano que vem deve passar dos R$ 800 bilhões.

Valor: O senhor vai ficar no cargo até dezembro de 2026 ou abril [prazo para se desincompatibilizar e disputar a Presidência]?
Ratinho Junior: Não sei, aí depende do partido, depende das conjunturas nacionais.

Valor: A sua indefinição em relação à candidatura presidencial é por conta do apoio do partido? O senhor pretende ser candidato?
Ratinho Junior: Ter a oportunidade de ser candidato é um privilégio. O Paraná passou a ser a quarta economia do Brasil e naturalmente isso coloca seu governante como protagonista. Mas ninguém é candidato sem aval do partido. Tenho buscado debater isso dentro do partido.

Valor: No PSD quem apoia a candidatura própria, além do senhor?
Ratinho Junior: Há um pensamento das lideranças que com o tamanho que o PSD conquistou, o partido tem que ser um protagonista. Não dá para ser sublegenda de um projeto. Um grande partido tem a responsabilidade de apontar soluções, lideranças que possam colaborar com o país e regionalmente também nos Estados.

Valor: O senhor acha que a vertente pró-candidatura própria ganhou mais força no PSD?
Ratinho Junior: Está ganhando mais força. Dentro do partido tem várias correntes: uma parte tem apreço pelo governo Lula, outra é totalmente refratária a isso, e tem aqueles que defendem a candidatura própria. Tem uma ala pela candidatura de Bolsonaro. Tenho 16 deputados no meu partido no Paraná, estaduais, mais 7 federais e quase 200 prefeitos. Tem que tentar achar aquilo que converge.

Valor: E tem um prazo no PSD para definir se terá candidato?
Ratinho Junior: Não. É natural que parte da imprensa, em especial parte do setor financeiro, fique um pouco angustiado com o cenário, porque o cenário determina muito o que vai acontecer com o país. O mercado está muito ansioso, muito preocupado.

Valor: Se o Bolsonaro não conseguir reverter a inelegibilidade, deve ter a pulverização de candidatos da centro-direita. Como avalia isso?
Ratinho Junior: Acho que mesmo com Lula e Bolsonaro candidatos ainda haverá pulverização. Os partidos estão em consolidação e é preciso apresentar os atores políticos, protagonistas e propostas. Partido que não tem candidatura tende a morrer.

Valor: A candidatura presidencial de Tarcísio é para valer?
Ratinho Junior: Tarcísio é um grande nome. Ele não tem que provar nada, é um baita quadro, um dos mais importantes do Brasil. Ele absorve muito voto de Bolsonaro, pela ligação histórica. Mas é uma conjuntura difícil, porque ele está ainda no primeiro mandato, teria que se desincompatibilizar em março, abril de 2026. É preciso ver o que vai acontecer com Bolsonaro, juridicamente.

Valor: Qual a contribuição do agro no PIB do Paraná?
Ratinho Junior: O agro representa 37% do PIB, mas não ficamos só nos alimentos. Outro projeto é a consolidação do polo automotivo. O Paraná deve manter crescimento de 4% a 5%. A média nos últimos quatro anos tem sido o dobro da taxa do PIB nacional.

Valor: A arrecadação de ICMS do Paraná em 2024 cresceu 12% reais. O Refis ajudou nisso?
Ratinho Junior: Foi uma ajuda pequena. Isso faz parte de um plano de saúde financeira e fiscal. Pela primeira vez, desde o Plano Real, o Paraná tem Capag A+ [nota de crédito do Tesouro Nacional]. Foi um dos primeiros Estados a fazer reforma administrativa, reforma previdenciária, lei da terceirização para diminuir o volume de concurso público. Uma série de medidas para diminuir a máquina pública.

Valor: É sua receita para o país?
Ratinho Junior: É uma receita de casa. Se gasta mais que arrecada, não dá certo. Hoje temos o maior investimento da história do Estado, com obras de infraestrutura pesada, em torno de R$ 7 bilhões. Terá mais R$ 4,5 bilhões para projeto de urbanização.

Valor: O governo federal tem tentado baixar preço de alimentos. O que o Paraná pretende fazer?
Ratinho Junior: O Paraná é o Estado com mais itens da cesta básica isentos de ICMS. A base da comida humana é soja, trigo e milho, com preço em dólar. Se o dólar está R$ 5,90, R$ 6,00, o preço vai subir. Para diminuir, o dólar precisa estar dentro da realidade do país.

Valor: Mas o dólar não tem influência do cenário externo?
Ratinho Junior: Fatores externos influenciam. Mas o fator interno, de equilíbrio fiscal, que não afugenta dólar do Brasil, ajuda a manter câmbio mais controlado. Se o governo sinaliza compromisso com a saúde fiscal, irá captar mais investimentos e ajuda a baratear o dólar interno.

Valor: A solução para isso é estritamente questão fiscal? E armazenagem pela Conab? Se o senhor fosse presidente, qual seria a solução?
Ratinho Junior: Não, seria uma das medidas. O café não é questão de dólar, é de estoque mundial. Em soja, milho e trigo, o câmbio tem influência grande. A questão da armazenagem, não sei se é bom. Mas ter as contas em ordem ajuda a tranquilizar o câmbio.

Valor: O governo federal não está comprometido com responsabilidade fiscal? Nem o ministro Haddad?
Ratinho Junior: Economia é sinalização. Haddad se esforça, mas não tem conseguido força política para convencer que a responsabilidade fiscal de gastar menos do que se arrecada é importante. Haddad se esforçado em acertar, mas não tem surtido efeito.

Valor: Haddad está isolado?
Ratinho Junior: Está, ao menos vendo de fora. Vemos que não tem tido apoio dos próprios pares.

Valor: O senhor falou do plano de investimentos no Paraná. Isso pode causar expansão fiscal, com impacto para a política monetária?
Ratinho Junior: Não. Se fosse pulverização de dinheiro, seria expansão monetária. O que estamos fazendo é investimento em infraestrutura. Seremos um dos poucos portos com equilíbrio modal, com 50% via caminhão e 50% linha férrea. Os investimentos estão dentro da lógica pela qual o Paraná se consolidou como supermercado do mundo.

Valor: O senhor falou de corte de gastos. Como isso poderia reduzir o déficit fiscal na União?
Ratinho Junior: Tem que fazer reforma administrativa, reforma previdenciária, que não precisa ser para agora, mas pode fazer para daqui 20, 30 anos. É possível reorganizar incentivos fiscais para setores que não têm colaborado com o desenvolvimento do Brasil.

Valor: E na Previdência, o que poderia ser mudado? Aumentar idade seria uma medida?
Ratinho Junior: É uma discussão a ser feita. Não precisa ser para agora, para daqui a 20 ou 30 anos. Hoje o brasileiro vive mais. A média no Paraná chega a 79 anos.

Valor: Mas já teria que começar a discutir propostas em 2027?
Ratinho Junior: Lógico. O próprio Congresso pode começar a discutir isso. É preciso pensar sobre a Previdência, novas tecnologias que podem ser implantadas. Tem que pensar a necessidade de rever direitos, mas ninguém vai tirar direito adquirido.

Valor: E benefícios assistenciais? O BPC pode ser revisto?
Ratinho Junior: Tudo o que puder, sem prejudicar os mais humildes, deve ser analisado. São temas duros e caros politicamente.

Valor: O que acha do Propag, o programa de refinanciamento das dívidas dos Estados com a União?
Ratinho Junior: Meu Estado não precisa do programa. Tudo aquilo que o governo federal puder ajudar, sem se prejudicar, é sadio. Não é inteligente para o país um Estado forte como o Rio Grande do Sul sangrar financeiramente por dívidas impagáveis.

Valor: Mas apoia o pleito de Estados, de usar recursos do fundo da reforma tributária e abater a dívida?
Ratinho Junior: Não sei se é a melhor solução. Mas se os governadores que precisam de uma solução propõem, é porque pode resolver o problema dos Estados.

Valor: Mas com o Propag a União deixa de receber parte da dívida…
Ratinho Junior: É que ao longo dos anos, pelo que foi cobrado de juros, é provável que a dívida tenha sido paga duas, três vezes. O governo federal não está errado, foi a regra colocada na época.

(via Valor Econômico).

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