
Trump no poder e seus impactos na política da União Europeia
Análise pela deputada do Parlamento Italiano Renata Bueno
A posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos trouxe consigo uma série de expectativas, não apenas em relação à política interna americana, mas também aos efeitos em sua relação com a União Europeia (UE). A administração Trump ficou marcada por um enfoque em políticas mais protecionistas, mudanças significativas em acordos internacionais e um estilo de liderança muitas vezes imprevisível. O cenário político mundial observou atentamente os primeiros passos do novo governo e as implicações para tratados e alianças globais.
Para a União Europeia, a posse de Trump representou um momento de incerteza, principalmente devido à sua postura crítica em relação a algumas das principais alianças da organização. O relacionamento transatlântico, que por décadas foi caracterizado por uma colaboração estreita entre os EUA e a Europa, sofreu abalos. A retirada dos EUA de acordos como o Acordo de Paris sobre o Clima, sinalizou uma mudança no papel do país como líder global e sua abordagem mais voltada para a política interna. A ação não só gerou tensão com os países europeus, que buscavam avançar em políticas ambientais sustentáveis, mas também comprometeu o esforço global para combater as mudanças climáticas.
Trump também demonstrou ser um crítico da OTAN, questionando a importância do pacto para a segurança europeia e, ao mesmo tempo, colocando pressão sobre os aliados para aumentar seus gastos com defesa. A postura do presidente norte-americano, focada no interesse nacional, fez com que a União Europeia tivesse que repensar e reforçar sua estratégia de autonomia geopolítica e econômica.

Outro ponto sensível da gestão Trump está relacionado à saúde. O governo americano seguiu uma linha de ação focada na desregulamentação do setor, contrariando tendências globais de buscar um sistema de saúde universal e acessível. A retirada dos EUA da Organização Mundial da Saúde (OMS), em meio à pandemia de COVID-19, foi um golpe duro para a cooperação internacional em saúde pública, afetando negativamente a dinâmica global de resposta a emergências sanitárias.
Apesar das dificuldades e incertezas causadas por sua política externa, Trump manteve uma boa relação com líderes de extrema-direita na Europa, como a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni. Ambos compartilham uma visão política conservadora, com ênfase em políticas de imigração mais restritivas e um enfoque no nacionalismo econômico.
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Embora a Itália tenha suas particularidades políticas e Meloni tenha se posicionado de maneira independente em várias questões europeias, a relação estreita com Trump pode garantir maior flexibilidade para o governo italiano nas questões internacionais, especialmente no que diz respeito a acordos econômicos e comerciais.
O relacionamento com líderes como Meloni, alinhados com a agenda de Trump, pode trazer vantagens para a Itália, mas também expõe a Europa a novas dinâmicas de política internacional. Em um mundo globalizado e interconectado, os efeitos da administração Trump ainda ressoam nas instituições europeias e suas futuras estratégias para lidar com os desafios globais.
É essencial que a União Europeia continue a se posicionar de forma autônoma, promovendo sua própria agenda de estabilidade econômica, segurança e sustentabilidade, enquanto navega nas águas turbulentas de uma política internacional cada vez mais imprevisível.
O legado de Trump, portanto, será analisado em muitos aspectos, não só no contexto dos EUA, mas também nas repercussões que trouxe para o equilíbrio mundial.
*Renata Bueno é atual deputada do Parlamento Italiano e ex-vereadora de Curitiba e