População rural acelera queda e perde 4,3 milhões de pessoas no Brasil, diz Censo
Número de habitantes em áreas rurais encolheu 1,28% ao ano, em média; reflexo da perda de moradores no campo é um país cada vez mais urbano.
LEONARDO VIECELI E LUCAS LACERDA (FOLHAPRESS) – O processo de perda de população em áreas rurais voltou a acelerar no Brasil, indicam novos dados do Censo Demográfico divulgados nesta quinta-feira (14) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Segundo o levantamento, o país tinha cerca de 25,6 milhões de habitantes vivendo no campo em 2022. Isso corresponde a uma redução de quase 4,3 milhões em relação à contagem anterior, de 2010 (29,8 milhões). Naquele ano, a perda havia sido menor, de 2 milhões, ante o Censo 2000.
Para se ter uma ideia, a redução de 4,3 milhões supera a população inteira, em 2022, de um estado como a Paraíba (4 milhões) ou o Amazonas (3,9 milhões).
O IBGE afirma que o número de habitantes em áreas rurais encolheu 1,28% ao ano, em média, no intervalo de 2010 a 2022. A redução supera a registrada na passagem de 2000 para 2010, quando foi de 0,65% ao ano.
A perda de 1,28% é a maior desde a verificada entre os recenseamentos de 1991 e 2000, quando a baixa havia alcançado 1,30% ao ano em média.
Questionado por jornalistas sobre a aceleração do ritmo de queda em 2022, o analista do IBGE Felipe Leitão disse que o fenômeno é complexo e exige uma avaliação mais detalhada.
“Os especialistas tratam de causas mais prováveis, geralmente relacionadas à vida econômica, à vida social e às oportunidades no campo ou na cidade. Mas isso precisa ser analisado com calma, [é preciso] ver quais situações políticas, econômicas e até ambientais se tinha em cada década”, afirmou.
Em 2022, os 25,6 milhões de habitantes em áreas rurais representavam 12,6% da população total no Brasil (203,1 milhões). Em 2010, a porcentagem era de 15,6%.
O reflexo da perda de moradores no campo é um país cada vez mais urbano. Em 2022, 177,5 milhões de brasileiros viviam no meio urbano. Isso correspondia a 87,4% da população total (203,1 milhões).
Trata-se da maior porcentagem de uma série histórica divulgada pelo IBGE com dados desde 1940.
Naquela época, somente 31,2% da população estava em áreas urbanas. Esse percentual cresceu ao longo das décadas seguintes, chegando a 84,4% em 2010 e a 87,4% em 2022.
O aumento da população urbana, contudo, está em uma tendência de desaceleração, em um possível reflexo da fecundidade em baixa no Brasil.
Ao chegar a 177,5 milhões em 2022, o número de habitantes nas cidades teve um crescimento de 16,6 milhões ante 2010 (160,9 milhões). Entre um levantamento e outro, o avanço foi de 0,82% ao ano em média.
Na comparação anterior, de 2010 com 2000, o aumento da população urbana havia sido de quase 23 milhões de pessoas. Nesse intervalo, o contingente cresceu 1,55% ao ano em média.
Para o doutor em demografia José Eustáquio Diniz Alves, pesquisador aposentado do IBGE, a urbanização levou avanços a grande parte da população, como maior acesso a serviços de saúde e educação.
Esse fenômeno, contudo, não foi totalmente inclusivo, pondera o especialista, já que parte dos brasileiros passou a conviver com precariedades em centros urbanos.
Nesse sentido, ele lembra que, na semana passada, o IBGE divulgou que 16,4 milhões de pessoas viviam em favelas e comunidades urbanas em 2022.
“De modo geral, a urbanização é boa. Agora, quando não respeita o meio ambiente e os direitos sociais, é ruim. O Brasil teve avanços com a urbanização, mas não conseguiu ser inclusivo”, afirma.
Ainda de acordo com José Eustáquio, a redução da população no campo nas últimas décadas pode estar associada em boa medida à mecanização das atividades agropecuárias. O uso de equipamentos na agricultura e na pecuária tende a aumentar a produtividade e reduzir a demanda por mão de obra.
“Tem também as pessoas que saem do meio rural porque são expulsas pela tecnologia. Sem conseguir acesso à tecnologia, elas têm de abandonar um modo de produção mais primitivo e ir para a cidade”, acrescenta o demógrafo.