Coluna Alceo Rizzi
Chulé não é defeito, é da pessoa, já advertia o poeta Zé Limeira
Imagem: MS’Art

Chulé não é defeito, é da pessoa, já advertia o poeta Zé Limeira

“ Diante do alerta do poeta do absurdo da literatura de Cordel, o paraibano Zé Limeira, e das patuscadas acontecidas na eleição para prefeito de Curitiba, melhor seria seguir à risca a advertência e também adotar medida necessária como reforço”.

Alceo Rizzi - segunda-feira, 28 de outubro de 2024 - 12:38

O que se viu nesta eleição para prefeito de Curitiba, permeado aos assombros causados pelos muitos delírios cognitivos de quem se expandiu em seus instintos agressivos, talvez pudesse servir como assunto de pertinente e necessária reflexão em busca de mudanças em disputas do gênero, ainda que esteja fora de qualquer possibilidade sendo as coisas como elas são. Mas seria menos despropositado daquilo que se assemelhou em determinados momentos à literatura de cordel, mais apropriadamente do poeta do absurdo Zé Limeira, aquele que sempre fazia questão de sacar o alerta de que ” chulé não é defeito, é da pessoa”. Em assim se tratando, despropósito é  se ater apenas aos os efeitos, é preciso ir diretamente à fonte, ainda que de semelhante absurdo se recorra à reflexão, numa espécie de licença poética.

Deveria eventualmente se estabelecer como lei, como regra elementar a submeter à cassação de registro de candidatura, ou do cargo que viesse a ocupar àqueles a que a elas não se submetessem, o compromisso obrigatório estabelecido em fé pública que uma vez o sujeito, ou a sujeita, eleito a cargo majoritário esteja inapelavelmente forçado a seguir, antes mesmo de anunciar a mais simples proposta ou plano de governo.  Como artigo primeiro, cláusula pétrea, na expressão de rábulas e causídicos. Antes de qualquer promessa, comprimir determinação de não destruir ou mudar programas e projetos que anteriormente estabelecidos por administrações anteriores que funcionem e atendam as populações. Que nada poderia ser feito por ímpeto de aventura ou por vontade de maquinações de neurônios em febre ou em convulsão mental ou cognitiva, em um tal de fazer por fazer. Seres confusos quando pensam, é sempre uma temeridade. Quando se candidatam, é assustador. Quando se elegem… melhor nem pensar. Com o agravante de todo um histórico demonstrado em campanha. Sempre haverá um efeito manada, parcial, mas haverá.

Houve proposta de se alterar o sistema de cobrança de tarifa integrada, única, de ônibus do transporte coletivo que justamente serve como tratamento isonômico de cidadania, independentemente de renda ou qualquer outro fator. Seria destruir o que funciona e deu certo e implodir, de lambuja, a integração com o sistema de transporte coletivo da região metropolitana. Questionar a espécie de monopólio e a confraria empresarial que move o sistema, são outros quinhentos. Sem maiores comentários. O mesmo serve para privatização do SUS, ainda que se questione a terceirização desnecessária que possa estar acontecendo na Saúde Pública em algumas áreas. Perversidade é tentar segregar pacientes por limites da geografia metropolitana. Essas tentativas mal enjambradas de parentesco com Zé Limeira na proposição de absurdos é coisa de um Deus nos acuda, literalmente. E á propósito dele e de uma das poesias e de uma das candidaturas a respeito do transporte coletivo e da tarifa, de todos nós, também já antecipava Zé Limeira:

 “A virgem Maria estava

Brigando com São José:

Você vendeu a jumenta

Me deixou andando a pé

Desta maneira eu termino

Voltando pra Nazaré 

Nisso gritou São José

Maria, deixa de asneira!

Vou comprar outra jumenta

Do jeitinho da primeira,

Quando ouviram uma zuada

No descer duma ladeira

 Era um caminhão de feira

Que vinha da Galileia.

São José disse eu vou ver

Se tem canto na boleia

Que possa levar nós três

Até perto da Judeia

São José deu com a mão,

O motorista parou.

Tem três canto pra nós três?

Jesus foi quem perguntou.

Disse o motorista tem,

Jesus respondeu eu vou!

E foram subindo os três.

Disse o motorista: para!

A gasolina subiu

A passagem é muito cara.

Vocês estarão pensando

Que meu carro é pau-de-arara?

São José puxou da faca

Pra furar os pneus.

Jesus já muito amarelo

Disse assim quando desceu:

Valha-me Nossa Senhora,

Que diabo fizemos eu?!”

Alceo Rizzi é jornalista, publicitário e escritor

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