Médicos apostam na conexão entre corpo, mente e espiritualidade para a saúde do coração
Cada vez mais, profissionais e instituições respeitadas adotam tratamentos integrados e desenvolvem pesquisas sobre a importância da felicidade e da espiritualidade
Sentimentos comuns a todos os seres humanos como raiva, culpa, medo, além de crenças limitantes e visão de mundo, podem estar ligadas a diversos processos de adoecimento, inclusive, no desenvolvimento de doenças do coração. Emoções e espiritualidade já são um campo vasto de investigação científica, como indica o Estudo Longitudinal da Saúde do Adulto (Elsa-Brasil) que identificou a depressão e a ansiedade, como fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, infarto e acidente vascular cerebral.
A médica cardiologista do Hospital Cardiológico Costantini, Bianca Prezepiorski, explica que as emoções ou eventos estressantes causam mudanças químicas no organismo e, mantidas por muito tempo, podem contribuir para o adoecimento. Um estado emocional positivo, por exemplo, gera hormônios da alegria, do prazer e da tranquilidade. Assim como o sentimento de resiliência que aumenta a serotonina, endorfina, ocitocina, que possuem impacto direto na circulação do sangue, diminuindo o risco de infarto, derrame, pressão arterial, melhorando o sono e a restauração das células.
“Tudo isso é uma grande sopa química que vai sendo conduzida ou não para fazer a diferença na saúde”, pontua.
Com muitos anos de clínica, tendo como base estudos científicos e, também, sua própria vivência com o yoga e meditação, Bianca destaca que sempre orienta, aliar aos tratamentos e medicamentos convencionais, mudança no estilo de vida e alimentação, além de alternativas como acupuntura, homeopatia e meditação, como suporte acessório. “Essa integração tem demonstrado resultados promissores, como a redução no uso de medicamentos e uma melhora na qualidade de vida dos pacientes”, diz a médica.
Maria Luiza Aquino Correia, 69 anos, economista aposentada e psicoterapeuta, relembra os anos em que a correria da vida profissional e familiar desencadeou um começo de quadro de estresse e arritmias cardíacas. “Meu corpo enviou sinais claros de que precisava desacelerar. A partir daí, comecei a praticar yoga e meditação, e minha vida mudou completamente. Ter uma médica que olha além dos sintomas e se preocupa com meu bem-estar emocional me trouxe muita segurança”, comenta.
Espiritualidade como aliada na medicina
Cientistas do mundo inteiro investigam a relação entre saúde e espiritualidade e o quanto esse fator pode ou não auxiliar na cura de doenças físicas e mentais. A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) entende que a espiritualidade pode ser um recurso para pacientes lidarem com doenças e sofrimento. ”Pesquisas demonstram que quanto maior a religiosidade intrínseca, melhores os desfechos cardiovasculares, como a redução de infarto e insuficiência cardíaca”, diz o médico cardiologista Maurício Sperandio, Pós-Graduado em Espiritualidade em Prática Clínica e coordenador do Comitê de Religiosidade e Espiritualidade do Hospital Costantini.
Conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS), espiritualidade é o conjunto de todas as emoções e convicções de natureza não material, remetendo o indivíduo a questões como o significado e o sentido da vida, não necessariamente a partir de uma crença ou prática religiosa. Reconhecendo sua importância para a qualidade de vida, em 1988 a OMS incluiu a espiritualidade no âmbito dos domínios que devem ser considerados na avaliação e promoção de saúde
Para se ter uma ideia da importância do tema, a pesquisa do Instituto Ipsos, Global Advisor Religion, de 2023, revelou que 95% dos brasileiros tendem a acreditar em Deus ou em um poder maior. “Na prática clínica, é importante entender qual a relação do aspecto espiritual com o processo de saúde e doença. Afinal, existem dados que apontam que espiritualidade é tão importante quanto fazer exercícios físicos e se alimentar corretamente”, diz Sperandio.
Sperandio é um dos pesquisadores brasileiros que se dedica a estudar a relação entre espiritualidade e saúde. Nesse contexto, está à frente da criação de um comitê de saúde e espiritualidade no Hospital Costantini. O projeto está na fase de capacitação dos profissionais.
“A intenção não é a de interferir no que o paciente acredita, mas em compreender como essa espiritualidade contribui ou não para sua saúde. Se ignorarmos esse aspecto, deixamos de entender o indivíduo como um todo e não conseguimos atender seus sofrimentos específicos”, explica.
O comitê visa também facilitar a expressão religiosa no ambiente hospitalar, promovendo a liberdade para que os pacientes pratiquem suas crenças, como grupos de oração e meditação, além de monitorar os efeitos dessas práticas no processo de cura. “As pesquisas irão nos auxiliar na compreensão de quanto essas práticas trazem benefícios aos pacientes internados. E dessa maneira, também oferecemos uma abordagem mais acolhedora e humanizada no hospital”, conclui o especialista.
*Com assessoria de imprensa.
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